
Ameaças à Citricultura em Mato Grosso do Sul
Mato Grosso do Sul tem se destacado como uma importante área para a citricultura, especialmente com a produção de laranja, atraindo bilhões em investimentos e incentivos fiscais. No entanto, o setor enfrenta novos desafios que podem comprometer seu crescimento. Um deles é a proposta de uma sobretaxa de 50% pelos Estados Unidos sobre o suco de laranja brasileiro, anunciada pelo governo Trump. Essa medida pode afetar negativamente a competitividade do estado e, consequentemente, o desenvolvimento da citricultura, que ainda está em fase inicial.
Atualmente, o Mato Grosso do Sul se beneficia de políticas que visam estimular a produção de laranjas, como o decreto 16.527, de dezembro de 2024. Esse decreto oferece uma redução significativa da carga tributária de ICMS para operações interestaduais de laranjas destinadas à industrialização, com um crédito presumido de 80% até 2032. A localização do estado também é favorável, devido ao seu clima ideal para o cultivo de laranjas. Além disso, existe uma legislação rigorosa para combater doenças que afetam os citros, como o greening.
Grandes empresas estão investindo pesado na citricultura local. A Cutrale, uma das maiores do setor, está desenvolvendo um projeto em Sidrolândia, a cerca de 70 km de Campo Grande. A expectativa é que a empresa cultive quase 5 mil hectares de laranja, com previsão de plantar 4.800 hectares até abril de 2026. Quando o pomar completar 8 anos, a estimativa é de produzir 8 milhões de caixas de laranja por ano. O investimento previsto pode chegar a R$ 1 bilhão. Quando questionada sobre o impacto da nova taxa americana, a Cutrale preferiu não comentar.
Outras empresas também estão apostando na citricultura do estado. A Agro Terena planeja cultivar 1.200 hectares em Bataguassu, enquanto o Grupo Junqueira Rodas já iniciou um projeto de 1.500 hectares em Paranaíba. O Grupo Moreira Sales anunciou um investimento de R$ 1,2 bilhão em Ribas do Rio Pardo, com a expectativa de colher 8 milhões de caixas de laranja e gerar milhares de empregos diretos e indiretos.
Entretanto, as esperanças do setor estão sombreadas pela incerteza. A proposta de sobretaxa dos Estados Unidos preocupa profundamente, já que esse país é o segundo maior destino das exportações de laranja brasileira. Se a medida for implementada, os impostos sobre as exportações podem aumentar significativamente, chegando a 72% do valor total do produto. Isso inviabilizaria a exportação para os EUA, que atualmente representa 42% do volume total comercializado pelo Brasil.
A Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) informou que, considerando os custos atuais, a nova sobretaxa aumentaria o valor dos impostos para cerca de US$ 2.600 por tonelada. Esse impacto tornaria as exportações inviáveis, levando a consequências diretas, como a interrupção das colheitas e desorganização das fábricas, o que afetaria cerca de 200 mil empregos no setor.
Além disso, a Frente Parlamentar da Agropecuária já demonstrou preocupações com essa situação, defendendo uma resposta diplomática rápida para evitar problemas maiores no agronegócio brasileiro. As autoridades e representantes do setor estão buscando soluções para evitar que medidas protecionistas do exterior prejudiquem um dos segmentos mais importantes da economia nacional.