
Imagine enfrentar a fome em um deserto, onde a única vegetação são as xerófitas, plantas resistentes, com folhas espessas e espinhosas. Essa foi a realidade tanto para dinossauros que habitavam a região do atual Deserto de Gobi, na Mongólia, há 66 milhões de anos, quanto para aqueles que viveram no Oeste do Paraná, no Brasil, 125 milhões de anos atrás. Ambas as áreas passaram por condições áridas, com escassez de alimentos, semelhante a um deserto com poucas fontes de sustento.
Pesquisadores descobriram que os dinossauros dessas duas regiões desenvolveram adaptações morfológicas parecidas para lidar com esses desafios. Eles possuem crânios altos e achatados, além de mandíbulas robustas e um osso dentário bem proeminente. Essas características evolutivas foram fundamentais para os dinossauros conseguirem se alimentar em ambientes tão severos.
Esse fenômeno é um exemplo raro de evolução convergente, onde espécies diferentes, sem parentesco próximo, desenvolvem traços semelhantes devido a viverem em ambientes com desafios parecidos. Essas adaptações têm tudo a ver com a dieta complicada imposta pelas condições desérticas.
A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto, envolveu o estudo de várias amostras de fósseis de diferentes partes do planeta. Os pesquisadores analisaram 65 maxilares e 52 dentes de dinossauros terópodes, dividindo-os entre carnívoros e herbívoros. A robustez das mandíbulas observadas em algumas espécies mostrou-se ideal para quebrar as duras estruturas das plantas xerófitas, como sementes, evidenciando como esses dinossauros se adaptaram a ambientes áridos e hostis, marcados por temperaturas extremas e falta de umidade.
Esses novos achados também sugerem que o antigo deserto do Paraná abrigava uma grande quantidade de plantas xerófitas, inclusive durante a formação do arenito Caiuá, onde foram encontrados fósseis de Berthasaura leopoldinae. Isso indica a rica biodiversidade que existia na Bacia Bauru num passado remoto, apesar das condições adversas.
Em dezembro de 2024, um estudo revelou pegadas de dinossauros ornitísquios, herbívoros com focinhos semelhantes a bicos de aves, na Bacia Bauru, mais especificamente em General Salgado, São Paulo. Essas pegadas foram encontradas perto de uma antiga lagoa, funcionando como um oásis durante períodos de seca. As marcas deixadas por esses dinossauros ajudam a entender como os animais se comportavam e interagiam em um ambiente hostil.
Além disso, a pesquisa identificou outros exemplos de evolução convergente. Um dos casos revelados foi o de Berthasaura leopoldinae, que parece ter perdido os dentes ao longo da vida, se tornando um adulto sem dentes, semelhante ao que aconteceu com Limusaurus inextricabilis, da China. Essa descoberta contribui para a compreensão das convergências evolutivas que ocorreram em diferentes dinossauros ao redor do mundo.