
Literatura Negra e Combate ao Racismo: Reflexões de Conceição Evaristo
Conceição Evaristo, aos 78 anos, é uma fase marcante da literatura contemporânea brasileira. Escritora, professora e ensaísta nascida em Minas Gerais, ela está sempre atuante com palestras, oficinas e aulas em universidades. Atualmente, está trabalhando em um novo livro intitulado Em Nome de Mãe, que será uma homenagem à sua mãe, uma mulher que criou nove filhos e teve um impacto significativo em sua vida e obra. Evaristo deseja celebrar a "potência da maternidade" das mulheres negras, que vão além da maternidade biológica, incluindo o cuidar feito por avós, tias e outras figuras femininas em suas comunidades. Ela também destaca a importância das mães de santo, que se tornaram referências de cuidado para toda a comunidade.
Em 2018, Evaristo se candidatou a uma vaga na Academia Brasileira de Letras (ABL). Embora não tenha sido eleita, ela considera que sua candidatura trouxe à tona questões importantes sobre representatividade. Desde então, mais mulheres, incluindo Ana Maria Gonçalves, a primeira mulher negra eleita para a ABL, foram eleitas, refletindo uma mudança nas percepções sobre inclusão na literatura.
Evaristo se tornará a primeira mulher negra na Academia Mineira de Letras em 2024. Ela afirma que deseja ser mais do que uma figura simbólica dentro da instituição, uma preocupação que muitos negros enfrentam ao alcançar posições de destaque no país. Segundo a escritora, a presença de pessoas negras em cargos elevados ainda é uma exceção, e ela pede uma maior diversidade em todos os setores, como grandes empresas e instituições acadêmicas.
Evaristo é amplamente reconhecida por seu trabalho literário. Suas obras, como Olhos d’água e Ponciá Vicêncio, foram aclamadas, ocupando posições de destaque em listas de melhores livros do século 21. Ela acredita que a literatura negra, que está em crescimento, pode ajudar a mudar a mentalidade das pessoas sobre o racismo, ao apresentar personagens com profundidade e complexidade. Essa representação é importante e pode fazer com que leitores de todas as origens se identifiquem e reflitam sobre questões raciais.
A escritora já vendeu mais de meio milhão de livros da editora Pallas, atraindo tanto leitores com formação acadêmica quanto aqueles sem acesso à linguagem mais sofisticada. Segundo Julio Ludemir, cofundador da Festa Literária das Periferias, Evaristo é comparada a Jorge Amado, devido à sua habilidade em conectar-se com seu público e tocar os corações das pessoas através de suas histórias.
Recentemente, Evaristo foi homenageada em Berlim durante um evento da Flup, que promove a literatura em comunidades periféricas do Rio de Janeiro. Ela destacou a importância da democratização do acesso ao livro e da valorização das expressões culturais das periferias.
A autora também ressaltou a necessidade de a Europa confrontar sua história colonial e refletir sobre suas responsabilidades em relação ao racismo. Ela sugere que a Europa deve entender o impacto de sua colonização e como isso ainda afeta as sociedades atuais, especialmente no que diz respeito à imigração.
Conceição Evaristo, que criou o conceito de "escrevivência", explica que ele une a escrita à vida e à reflexão sobre a própria identidade. Esse conceito permite que escritores negros integrem suas experiências pessoais em suas obras, promovendo uma representação mais rica e autêntica das vozes das mulheres negras na narrativa brasileira.
Apesar dos avanços, Evaristo acredita que o país ainda tem um longo caminho pela frente na luta contra o racismo. Ela vê progresso na discussão sobre a questão racial, anteriormente cercada de cinismo, mas ressalta que o racismo estrutural ainda persiste, e é preciso que todos assumam a responsabilidade de produzir mudanças reais na sociedade. Em suas próprias palavras, a nova geração deve lembrar do passado para compreender melhor como ele influencia o presente.