Cúpula dos Povos: marcha unificada deve reunir 30 mil em Belém

Belém do Pará está em ebulição desde a semana passada. A cidade é palco de intensas atividades, como marchas, protestos, eventos culturais e debates, especialmente com a realização da Cúpula dos Povos, que começou na quarta-feira (12). Este evento reúne movimentos populares de várias partes do mundo com o objetivo de criticar as “falsas soluções” apresentadas na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). O destaque da mobilização acontece neste sábado (15) com a Marcha Unificada, que espera reunir cerca de 30 mil participantes.

Na marcha, diferentes grupos sociais, como povos indígenas, quilombolas, pescadores, jovens, trabalhadores, mulheres, pessoas trans e crianças, estão unidos através de uma ampla rede de organizações da sociedade civil. A programação inclui diversas manifestações ao longo do percurso, que terá como destaque o Funeral dos Combustíveis Fósseis, uma atividade que convida os participantes a refletirem sobre a necessidade de abandonar o uso de petróleo e a importância de uma transição energética justa e democrática. Uma figura simbólica, o Curupira, guardião das florestas, também estará presente no Cortejo Visagento, representando a luta contra a destruição ambiental disfarçada de progresso.

A concentração da marcha começará às 8h no Mercado de São Brás e seguirá por 4,5 quilômetros até a Aldeia Cabana, um local de grande significado para a resistência na região amazônica. A Aldeia Cabana é uma homenagem à Revolta da Cabanagem, um grande levante popular que ocorreu no século 19.

Ayala Ferreira, integrante da comissão política da Cúpula dos Povos e dirigente nacional do Movimento Sem Terra (MST), comentou sobre a marcha, destacando sua relevância histórica. Ela afirmou que este evento é uma das maiores mobilizações sociais relacionadas às crises climática e ambiental, e que suas vozes se unificam contra as mais variadas falsas soluções que têm sido apresentadas na COP30.

A Cúpula dos Povos conta com a participação de mais de 1.100 organizações, que se reuniram em diversas atividades durante a semana. As festividades começaram com iniciativas como as barquetas, que são caravanas de ônibus e caminhadas. Antes da abertura oficial, uma Marcha Global pelo Clima e Saúde, que ocorreu na terça-feira (11), reuniu aproximadamente 3 mil pessoas para chamar a atenção para os impactos da crise climática na saúde da população.

No mesmo dia, ocorreram protestos que pediam a taxação das grandes fortunas, que resultaram em tumulto, além de um ato do MST em um espaço que promove o agronegócio. Com a chegada de mais de 200 embarcações de diferentes países, a Cúpula dos Povos começou oficialmente, atraindo grande atenção.

Na quinta-feira (13), manifestações de movimentos populares se intensificaram. Várias organizações protestaram na entrada da Zona Azul, onde ocorrem as negociações entre os líderes mundiais, exigindo mais efetividade nas decisões sobre mudanças climáticas. Cartazes e gritos clamavam por mais celeridade nas negociações e investimento em soluções que possam ajudar a enfrentar a crise ambiental.

No dia seguinte, indígenas Munduruku bloquearam a entrada da COP30, denunciando a contaminação causada pelo mercúrio e os grandes projetos que estão devastando a floresta. Um dos líderes da manifestação afirmou que “aqui ninguém vai brincar, ninguém vai tirar selfie”, ressaltando que a luta deles é real e urgente, especialmente contra práticas que alegam sustentabilidade, mas que prejudicam suas comunidades e o meio ambiente.

A Cúpula dos Povos se configura como o maior espaço de diálogo e proposta da sociedade civil sobre questões ambientais e climáticas. Com uma participação diversificada que inclui povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas e várias organizações, este evento representa uma mobilização que começou há dois anos, após a confirmação de que a COP30 seria realizada no Brasil.

As demandas centrais dos movimentos populares incluem a demarcação de terras para comunidades tradicionais, a criação de mais áreas de conservação, o investimento em energias renováveis, o fortalecimento da agricultura familiar, a recuperação de manguezais e a melhoria do saneamento urbano. Essas reivindicações refletem uma luta contínua pela justiça social e ambiental no país.