Cooperativas agrícolas asseguram alimentos saudáveis e crédito acessível

Assentamento Mário Lago Luta por Sustentabilidade em Ribeirão Preto

Ribeirão Preto, famosa por sua monocultura, abriga o assentamento Mário Lago, o único do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) na região. Localizado entre um ambiente urbano e vastas plantações de cana-de-açúcar, o assentamento enfrenta grandes desafios, conforme relata Nivalda Alves, presidenta da cooperativa Agroecológica Mãos da Terra, que conta principalmente com a participação de mulheres.

Neste último sábado, Nivalda participou do I Encontro do Ecossistema Finapop, realizado em São Paulo, onde compartilhou suas experiências na produção de alimentos orgânicos. O encontro reuniu cooperativas da reforma agrária e investidores que buscam criar impacto social positivo. Nivalda destacou a luta diária para manter a produção em meio a restrições financeiras e burocráticas que afetam os pequenos agricultores.

“A luta é constante. Estamos em plena capital do agronegócio, onde a visão é voltada para a monocultura. É difícil conseguir apoio para nossas iniciativas”, afirmou Nivalda. Para ela, a resistência do assentamento é um exemplo de coragem e perseverança, um sentimento compartilhado por Maria Madalena Alves Gonçalves, que estava ao seu lado no evento.

Recentemente, a cooperativa Mãos da Terra conseguiu acesso a uma linha de crédito que permitiu melhorias significativas nas condições de produção. Esses recursos foram aplicados na compra de insumos, como adubo e mudas, além de ajudar a quitar uma parte do caminhão utilizado para transporte das mercadorias. Parte da verba também foi direcionada para consertos no barracão do assentamento.

Ribeirão Preto, com seu vasto território dedicado ao cultivo de cana-de-açúcar, enfrenta também problemas ambientais. Em 2024, incêndios devastaram áreas da cidade, incluindo o assentamento Mário Lago, que perdeu várias plantações. Mesmo após essas dificuldades, Nivalda e suas companheiras mantêm a produção, enviando mensalmente caminhões carregados de frutas e hortaliças para feiras e mercados locais.

O assentamento está engajado em um projeto de reflorestamento, plantando espécies nativas e frutíferas. “Estamos falando de alimentação saudável e preservação do meio ambiente”, disse Nivalda, destacando a importância dessas ações para a comunidade.

Experiências Positivas em Outras Cooperativas

Outras regiões também estão colhendo os frutos do Finapop. Em Minas Gerais, Roberto Carlos do Nascimento, da Cooperativa Camponesa, relatou como o financiamento possibilitou a compra de café produzido pela família. Graças ao crédito, a cooperativa consegue pagar melhor aos seus cooperados do que outras do entorno, garantindo uma melhor valorização do trabalho familiar.

Em Uberlândia, o assentamento Emiliano Zapata, que abriga 25 famílias, se dedica à produção de frutas e hortaliças. Flaviana Dias, agricultora do local, explicou que o acesso ao crédito possibilitou melhorias, como a compra de embalagens para ovos caipiras e a alimentação das aves. Parte da produção é destinada às feiras e também à merenda escolar, garantindo que a comunidade tenha acesso a alimentos frescos e saudáveis.

O Papel do Finapop

O Financiamento Popular para Alimentos Saudáveis (Finapop) é uma plataforma que conecta cooperativas de agricultura familiar a investidores que desejam apoiar práticas sustentáveis. Fundada em 2020, a iniciativa já beneficiou 64 cooperativas em 18 estados, financiando projetos que totalizam R$ 81 milhões.

Luis Costa, diretor-executivo do Finapop, destacou que a proposta é unir produtores de alimentos saudáveis com investidores que acreditam na agroecologia e na reforma agrária. “A plataforma permite que pessoas que se preocupam com o meio ambiente e a alimentação saudável possam investir em causas que consideram importantes”, finalizou.

O trabalho no assentamento Mário Lago e em outras cooperativas mostra a força e a determinação de comunidades que, apesar das dificuldades, buscam um futuro mais sustentável e justo.