
A Coreia do Norte atraiu atenção mundial no mês passado ao ocorrer um incidente na construção de um novo navio de guerra, que virou durante seu lançamento. O evento gerou cobertura ampla na imprensa, especialmente após a recuperação bem-sucedida da embarcação e seu relançamento, que aconteceu no dia 13 de junho.
Embora o acidente não tenha resultado em vítimas ou causado danos significativos ao casco, a repercussão do incidente se deve principalmente à reação do líder norte-coreano, Kim Jong-un. Ele rapidamente classificou o ocorrido como um “ato criminoso” e afirmou que isso afetou a “dignidade” do país. Kim exigiu reparos urgentes no navio e punições severas aos responsáveis, resultando na prisão de quatro autoridades do Partido dos Trabalhadores.
A raiva de Kim e o rápido processo de reparo revelam aspectos importantes sobre o governo da Coreia do Norte. O país está determinado em desenvolver uma marinha capaz de operar com armamento nuclear. Apesar de seu arsenal nuclear crescer em quantidade e sofisticação, a marinha norte-coreana é considerada inferior em comparação com a da Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos, que possuem frotas muito mais poderosas.
Kim Jong-un, desde o início do seu governo, tem priorizado a modernização da marinha do país. O navio que virou é um dos dois destroieres construídos pela Coreia do Norte, pesando cerca de 5 mil toneladas cada, e teoricamente capazes de disparar mísseis nucleares de curto alcance.
O capitão aposentado da marinha sul-coreana, Choi Il, sublinha que é raro um destroier dessa classe virar durante a construção, o que teria sido um “incidente embaraçoso” para Kim, especialmente porque aconteceu sob sua supervisão e na presença de sua filha e de espectadores.
Especialistas em propaganda norte-coreana analisam que a resposta de Kim foi uma estratégia política intencional. Historicamente, o regime buscava esconder falhas e manter uma narrativa controlada, mas com a maior circulação de informações no país, ficou difícil ocultar grandes incidentes. Assim, a liderança decidiu que seria mais eficaz lidar abertamente com os problemas, mostrando que estão responsabilizando os responsáveis e, assim, reforçando sua imagem de controle.
Esse incidente também serviu para fortalecer a lealdade das pessoas ao regime. Kim usou a morte de um trabalhador durante a construção do navio como um símbolo de devoção, transformando isso em um meio de mostrar que o governo valoriza o sacrifício de seus cidadãos. Ao invés de apresentar uma figura infalível, como em governos anteriores, o regime de Kim promoveu a imagem de um trabalhador leal.
Apesar das fracas instalações navais da Coreia do Norte, a habilidade de Kim de se adaptar e controlar a narrativa se mostrou eficaz. Após apenas três semanas, o navio foi relançado com sucesso, superando as expectativas dos especialistas. Essa capacidade de transformar um fracasso em um êxito político foi destacada por analistas, que notaram como o regime está avançando para atingir seus objetivos, incluindo o desenvolvimento de uma marinha robusta.
Por fim, especialistas alertam que o desejo de Kim Jong-un de expandir a marinha, atualmente focada em patrulhar águas locais, pode indicar a intenção de desenvolver uma força naval capaz de operar globalmente e lançar ataques nucleares preventivos, exigindo vigilância constante da comunidade internacional.