
Nos últimos anos, as ruas da Zona Sul do Rio de Janeiro passaram por uma notável transformação, especialmente em relação à cultura das corridas. A corrida de rua, que antes era dominada por assessorias esportivas focadas em desempenho, agora atrai uma nova geração que busca não apenas a saúde, mas também um sentido de comunidade e pertencimento.
A popularização dos chamados “running crews”, ou clubes de corrida urbanos, está em pleno crescimento. Esses grupos reúnem jovens de diversas origens e estilos, transformando a corrida em uma prática coletiva, onde o ritmo e a energia se combinam com diversão e sociabilidade. Em vez de se concentrarem unicamente em grandes eventos, como a Maratona do Rio, que reúne milhares de participantes, esses clubes se tornaram espaços de encontro e celebração.
Cada crew possui uma identidade única, com estilos e playlists próprias. Os treinos se tornaram verdadeiros eventos sociais, onde os membros não apenas correm, mas também se apresentam como um grupo coeso, muitas vezes utilizando coreografias e filmagens criativas. O objetivo vai além de apenas melhorar o desempenho individual; trata-se de vivenciar a experiência de correr juntos.
Matheus Coutinho, líder do grupo Marun, relata como o clube nasceu. Ele começou a correr em 2019 e, ao participar da Maratona de Berlim em 2021, sentiu a solidão mesmo entre 80 mil participantes. Motivado por essa experiência, ele começou a convidar amigos, e o grupo cresceu organicamente. Desde então, o Marun já organizou 52 encontros, realizados todas as terças e quintas-feiras, com percursos de três e cinco quilômetros.
Os encontros do Marun também incluem um momento de socialização após a corrida, no restaurante V7 em Ipanema, onde os participantes podem relaxar e interagir. O grupo valoriza a inclusão, tornando os treinos acessíveis para todos, independentemente de suas habilidades físicas. Essa ideia está alinhada com o espírito das crews que se espalham pelo Brasil, algumas focadas em alto rendimento e outras que enfatizam a inclusão e a meditação.
Grupos como o 5am Running Club caracterizam-se por sua energia vibrante e por criar um ambiente de interação social. Os encontros ocorrem em diferentes horários, oferecendo percursos que vão de cinco a dez quilômetros, sempre em um formato em pelotão. Após as corridas, há uma tradicional celebração com bebidas gratuitas, criando um ritual comunitário.
Addicionalmente, essas corridas têm gerado novas formas de interação social, até mesmo no romantismo. O uso de uma meia azul, por exemplo, sinaliza que o corredor está solteiro e aberto a novas conexões, e o que é conhecido como “pace fofoca” permite que os participantes conversem enquanto correm, tirando a pressão de melhorar o desempenho.
O movimento de corrida é visto como uma forma de desacelerar e reconectar-se com o ambiente, a cidade e outras pessoas. Apesar da ascensão do digital, muitos corredores consideram a corrida uma oportunidade de desfrutar momentos simples e autênticos. A ideia de que “nada disso é forçado” é essencial, pois as conexões fluem naturalmente entre os participantes.
Ainda é importante lembrar que a segurança deve ser uma prioridade. Correr é uma atividade acessível, mas deve ser realizada com atenção aos limites do corpo e com a orientação de profissionais quando necessário. O acompanhamento adequado é fundamental para prevenir lesões e garantir uma experiência saudável.
No cenário atual, as marcas estão adaptando suas ofertas às novas demandas. Durante a Maratona do Rio, restaurantes como o Nôa, ViaSete e V7 preveem disponibilizar menus especiais para os corredores, focando em refeições ricas em carboidratos, ideais para a preparação dos atletas. Além disso, eventos como a Corrida Prio no Jockey Club prometem entretenimento e interação, com shows e celebrações.
As corridas urbanas, por sua vez, vão muito além de uma atividade esportiva. Elas representam um verdadeiro desejo de pertencer a uma comunidade, de se conectar com os outros e de viver momentos significativos em um ambiente dinâmico e vibrante.