
A confirmação da morte do pianista Francisco Cerqueira Tenório Júnior, conhecido como Tenorinho, trouxe sentimentos mistos à sua família. A notícia, informada pela Embaixada do Brasil na Argentina, foi recebida no último sábado (13) quase 50 anos após seu desaparecimento em Buenos Aires.
A família expressou alívio por finalmente ter uma resposta sobre o que aconteceu com ele em março de 1976, mas também tristeza pela confirmação de que Tenório foi vítima da violência e foi enterrado como um desconhecido, longe de seus entes queridos. Em uma declaração, os filhos Elisa, Andrea, Francisco e Margarida disseram: “Ainda queremos e precisamos de respostas. Quem matou Tenório? Por quê? Por que matar um homem sem nenhum envolvimento político, que só vivia para a música?”
Tenorinho, considerado um talento de destaque na bossa nova e no jazz, foi visto pela última vez em 18 de março de 1976, após um show no centro da capital argentina. Ele saiu do Hotel Normandie, onde estava hospedado, para ir a uma farmácia e nunca mais foi encontrado. Apenas dias depois de seu desaparecimento, em 24 de março, ocorreu o golpe militar na Argentina.
A identificação do corpo de Tenório Jr. foi realizada pela Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) por meio da comparação de impressões digitais. O corpo foi encontrado em Don Torcuato, na região metropolitana de Buenos Aires, dois dias após seu desaparecimento e, segundo a autópsia da época, ele morreu devido a disparos de arma de fogo. Apesar de não ter sido possível restituir o corpo à família, Tenório foi enterrado no cemitério de Benavídez, em Buenos Aires.
Na época em que desapareceu, Tenorinho estava em turnê pelo Uruguai e Argentina com artistas renomados como Vinicius de Moraes e Toquinho. Mesmo sem ter envolvimento político, seu caso sempre foi rodeado de mistério. Vinicius de Moraes chegou a visitar hospitais e delegacias em busca de notícias. Há uma teoria de que Tenorinho pudesse ter sido confundido com um “subversivo” devido à sua aparência, que incluía uma barba. Tanto o Brasil quanto a Argentina viviam contextos de repressão e perseguições.
Tenório Júnior nasceu no Rio de Janeiro e começou sua carreira aos 15 anos, estudando acordeão e violão. Logo, dedicou-se ao piano, o instrumento pelo qual se tornou conhecido. Ele compôs, lançou discos e se apresentou em festivais, tornando-se um dos mais respeitados músicos da década de 1970, famoso por sua habilidade em misturar bossa nova com jazz.
A confirmação da morte de Tenorinho trouxe um “mínimo de conforto” para a família, segundo o músico Toquinho, que o descreveu como um dos maiores talentos da bossa nova. A triste lembrança do seu desaparecimento se reflete na música “Lembranças”, escrita por Toquinho e Miltinho, onde se menciona: “Tenório saiu sozinho na noite / Sumiu / Ninguém soube explicar”.
Muitos amigos e colegas, incluindo a cantora Joyce Moreno, também demonstraram seu pesar pela notícia. Em uma rede social, Joyce refletiu sobre o impacto que Tenorinho poderia ter na música brasileira se estivesse vivo, enquanto Fafá de Belém destacou sua importância, encerrando sua mensagem com um apelo: “Ditadura nunca mais”.