Gloria Perez fala sobre censura e sua saída da Globo

A renomada autora de novelas, Gloria Perez, encerrou seu contrato com a TV Globo após mais de 40 anos de colaboração. Em uma entrevista, ela compartilhou os motivos de sua decisão e criticou a influência do politicamente correto na programação das emissoras.

Gloria explicou que seu mais recente projeto, chamado “Rosa dos Ventos”, foi rejeitado pela direção da emissora. A novela abordava temas sensíveis, como o aborto e questões políticas, o que levou a autora a considerar que não havia mais espaço para sua liberdade criativa na Globo. Ela enfatizou que sua assinatura é exatamente tratar de assuntos delicados e promover discussões profundas. “Se eu não puder fazer isso, eu acabo”, declarou.

A escritora, que iniciou sua carreira na emissora em 1979, comparou a censura que enfrentou durante a ditadura militar com o controle moral que observa atualmente. Segundo ela, hoje a censura é mais difusa e severa, manifestando-se através de pressões sociais e opiniões que circulam nas redes sociais. “Antes, você tinha uma censura. Agora, há um controle disperso na sociedade. É muito pior”, afirmou.

Gloria também apontou que o politicamente correto tem limitado a criação de novas histórias. Para ela, a essência da novela é o conflito, e essa cultura restritiva enfraquece a dramaturgia. Ela mencionou que produções ousadas como “O Clone” e “Caminho das Índias” dificilmente seriam aceitas hoje, pois exigem experimentação e audácia, que, segundo ela, não são valorizadas no cenário atual.

Além disso, a autora refutou críticas sobre a forma como retrata culturas estrangeiras em seus trabalhos, afirmando que o reconhecimento do público local é uma prova de que suas representações são apreciadas. “Quem foi ao Marrocos, à Índia, à Capadócia viu de perto a aprovação das populações locais sobre esses retratos”, destacou.

Por último, Gloria comentou sobre sua experiência com sua última novela na Globo, “Travessia”, que enfrentou muitas críticas e problemas de audiência. Ela revelou que não foi ela quem escolheu Jade Picon para o papel principal e que o resultado final da novela não refletiu sua visão criativa. “Travessia foi um ponto fora da curva e, de certa forma, implodida internamente. Não deu certo intencionalmente”, concluiu.

A saída de Gloria Perez marca o fim de uma era na dramaturgia brasileira, levantando discussões sobre a diversidade de temas e a liberdade criativa na televisão.