Comunicação em disputa: mídias latino-americanas se unem na Venezuela

Desafios das Mídias Independentes na América Latina

As mídias independentes na América Latina enfrentam grandes desafios ao tentar competir com a comunicação de grandes corporações. A escassez de recursos, a influência política das grandes empresas de tecnologia e a ascensão de governos de extrema direita são alguns dos principais obstáculos que esses veículos encontram ao tentarem apresentar uma nova narrativa sobre os conflitos globais.

Recentemente, representantes de 20 veículos de comunicação alternativos se reuniram na Cúpula dos Povos pela Paz em Caracas, na Venezuela. O encontro teve como objetivo discutir novas formas de fazer jornalismo que não apenas dêem voz a essas mídias, mas também combatam as violências e o desrespeito aos direitos humanos. A colaboração entre veículos populares tem se mostrado uma importante estratégia da esquerda para construir novas narrativas e denunciar violências.

Sayonara Tamayo, comunicadora do Centro Martin Luther King de Cuba e coordenadora da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba) Movimentos, destacou a importância dessas articulações em um contexto de disputa. Segundo ela, a comunicação é um campo onde as forças dominantes se opõem aos movimentos e organizações populares. Tamayo enfatizou a necessidade de que os povos e suas organizações compreendam o papel vital da comunicação na batalha das ideias.

Felipe Bianchi, um dos coordenadores do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, também se manifestou sobre a importância do encontro. Ele destacou que a integração entre os veículos de comunicação permite entender os problemas comuns enfrentados por mídias alternativas em diferentes países e propõe soluções que podem ser aplicadas globalmente. Para Bianchi, a comunicação se torna o elo que une as lutas por soluções a problemas comuns.

Os veículos independentes enfrentam dificuldades não apenas financeiras, mas também se veem dependentes de plataformas que muitas vezes atendem interesses políticos específicos. A presença nessas redes é crucial para alcançar um público maior, mas seus algoritmos tendem a favorecer conteúdos que estejam alinhados a políticas corporativas.

A questão das redes sociais, conhecidas como “big techs”, é complicada. Por um lado, elas são essenciais para que os veículos independentes possam se comunicar com o público; por outro, o alcance de suas publicações é frequentemente limitado pelas métricas usadas por essas plataformas. Recentemente, houve casos de descontentamento em relação à forma como essas empresas operam, especialmente quando se percebe que seus donos têm vínculos com agendas políticas específicas.

Os veículos de mídia alternativa têm pedido a regulação dessas plataformas, buscando mais transparência e regras claras sobre a responsabilidade por conteúdos. Em agosto de 2024, a Justiça brasileira suspendeu a plataforma X, que havia descumprido decisões judiciais. Essa situação mostra a urgência em torno da regulação e monitoramento das atividades dessas grandes empresas.

Além disso, diversas iniciativas têm surgido para fortalecer a comunicação entre os veículos independentes, permitindo que questões muitas vezes negligenciadas pela grande imprensa ganhem visibilidade. A Alba Movimentos, por exemplo, organizou a presença de mídias independentes na cúpula em Caracas para facilitar a construção de novas narrativas.

Cuba é um exemplo frequente de como a comunicação é afetada por estigmas e bloqueios internacionais. Desde a revolução de 1959, a ilha enfrenta não apenas um bloqueio econômico dos Estados Unidos, mas também a desinformação disseminada por agências de notícias dominantes. Em 2024, uma publicação de destaque no país chamou Cuba de ditadura, reiterando uma narrativa negativa.

Nesse panorama, as mídias independentes defendem a necessidade de políticas públicas que promovam a diversidade de ideias e garantam que muitas vozes possam ser ouvidas. A formação política e a organização dos grupos são vistas como etapas essenciais para fortalecer essa comunicação e integrá-la nos movimentos populares.

Por fim, a situação na Palestina se destaca como um caso emblemático dessa disputa comunicacional. O ativista palestino Almaza Ahmed Maarouf comentou que a cobertura sobre o conflito na região melhorou, mas ainda não representa fielmente a realidade. Ele enfatiza que muitos veículos de comunicação têm suas agendas manipuladas, limitando a liberdade de expressão e de manifestação do povo palestino.

Maarouf pediu uma cobertura mais justa e equilibrada sobre eventos em Gaza, destacando que jornalistas têm sido vítimas de violência no conflito. Ele ressaltou a necessidade de que a imprensa relate a verdade sobre o que ocorre na região, demandando uma presença mais transparente.

Esses eventos ressaltam a necessidade urgente de fortalecer as mídias independentes e suas narrativas, em um cenário onde a comunicação é cada vez mais uma ferramenta de luta por direitos e justiça social.