Shows de Bad Bunny em Porto Rico refletem resistência local

Um clima de animação tomou conta de Porto Rico nesta sexta-feira, quando o artista local Bad Bunny, um dos principais nomes da música global, inaugurou sua tão esperada residência de shows na ilha. Com uma série de 30 apresentações, a expectativa é alta e a cidade vive um verdadeiro movimento em torno do evento.

As lojas estão vendendo produtos comemorativos que esgotam rapidamente, e os restaurantes estão criando pratos especiais para a ocasião. Emissoras locais também dedicam suas programações a uma cobertura completa do que muitos chamam de “mania Bad Bunny”.

Nascido como Benito Antonio Martínez Ocasio, Bad Bunny começou sua temporada de shows em um momento em que a cultura porto-riquenha busca reafirmar seu orgulho e identidade diante de desafios como a crise econômica, a gentrificação e os longos efeitos do colonialismo. As primeiras nove apresentações serão exclusivas para os moradores da ilha, enquanto os demais shows estarão abertos para fãs de diversas partes do mundo, destacando assim a rica cultura local.

Todos os 30 shows, realizados na arena Coliseo de Puerto Rico, que tem capacidade para 18.500 espectadores, estão esgotados. A escolha de priorizar os porto-riquenhos na residência é vista como um gesto significativo, demonstrando que Benito está, primeiro, se dirigindo a seu povo, conforme enfatizou Jorell Meléndez-Badillo, historiador da região.

Para muitos, os shows simbolizam a autossuficiência do povo porto-riquenho e a crença de que a ilha pode se manter de pé sozinha. Javier J. Hernández Acosta, diretor da Escola de Artes, Design e Indústrias Criativas da Universidade del Sagrado Corazón, destacou que os eventos são uma chance de mostrar as artes criativas da ilha, que representam um importante recurso para construir um futuro promissor.

Antes do início do primeiro show, a atmosfera nas proximidades da arena era de festa, com música, comida e vendedores animados. Os fãs aguardavam ansiosamente na fila. Gilda Santos, uma das presentes, expressou sua empolgação: ver Bad Bunny ao vivo em Porto Rico é uma experiência única. Jackeline Carrasquillo, de Río Grande, também comentou que o artista tem elevado o nome da ilha e que esse evento é um momento de exaltação da cultura local.

Porto Rico, território dos Estados Unidos, possui características únicas, como a cidadania americana, mas sem direito a voto nas eleições presidenciais. Assim, os porto-riquenhos, que têm um delegado no Congresso que não vota, vivem uma situação política peculiar.

Bad Bunny, conhecido como o Rei do Trap Latino, utiliza sua música para amplificar as vozes de comunidades marginalizadas e para abordar problemas que afetam seus conterrâneos. As canções do seu álbum “Debí Tirar Más Fotos” tocam em temas de injustiça e deslocamento, refletindo preocupações sobre a identidade cultural da ilha.

Além disso, o artista comemorou a diáspora porto-riquenha em Nova York na faixa “Nuevayol”, que homenageia as contribuições dos latinos. Estima-se que mais de 5 milhões de porto-riquenhos vivam atualmente no continente americano, muitos dos quais deixaram a ilha em busca de melhores condições de vida.

Após essa residência, Bad Bunny vai embarcar em uma turnê mundial, mas, curiosamente, não incluirá shows nos Estados Unidos continentais. Meléndez-Badillo sugere que essa decisão pode ser um posicionamento político, especialmente em relação a críticas anteriores de Bad Bunny às políticas migratórias do governo americano.

Em entrevistas, Bad Bunny deixou claro que ele não vê a necessidade de se apresentar nos EUA, ressaltando que os fãs americanos já tiveram várias oportunidades de vê-lo ao vivo. Para Hernández Acosta, essa escolha é um recado de que os porto-riquenhos estão redefinindo suas próprias prioridades.

A residência de Bad Bunny, portanto, não é apenas uma série de shows; é também uma ocasião para celebrar e encontrar alegria após anos de dificuldades, como a recuperação do furacão Maria, que devastou a ilha em 2017.