Brasil busca soberania em IA, alerta diretor da Nvidia

O crescimento da inteligência artificial (IA) no Brasil está ligado a um fator importante, mas ainda em falta no país: o poder computacional. Para a NVIDIA, uma das empresas líderes no setor, a criação de data centers locais é fundamental para garantir autonomia tecnológica e reduzir a dependência de infraestruturas estrangeiras.

Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da NVIDIA para a América Latina, destaca que o controle sobre o poder computacional é essencial. Ele compara essa influência ao controle sobre recursos naturais estratégicos, como energia e água, afirmando que quem domina essa tecnologia define também como e onde as IAs são desenvolvidas e utilizadas.

### Brasil: Potencial e Necessidade de Investimentos em IA

O Brasil apresenta condições favoráveis para se tornar um importante polo de IA na América Latina, beneficiando-se de uma abundância de energia limpa, de um território amplo e da capacidade de atrair empresas e pesquisadores. Além disso, possui um Plano Nacional de Inteligência Artificial que prevê um investimento de R$ 20 bilhões até 2030, conforme informações do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

No entanto, a NVIDIA acredita que é urgente transformar esse plano em ações concretas. “O Brasil tem potencial para fornecer poder computacional a toda a América Latina, mas isso depende de políticas públicas que acelerem a construção da infraestrutura e a formação de profissionais qualificados”, diz Aguiar.

### Escassez de Infraestrutura Global

Um estudo recente da Universidade de Oxford revelou que apenas 32 países no mundo têm data centers robustos o suficiente para suportar os atuais modelos de IA. Destes, 90% estão situados nos Estados Unidos e na China, o que acentuará o risco de exclusão digital para outros países.

Aguiar alerta que, devido a essa concentração, o acesso global às tecnologias mais avançadas é limitado. Ele enfatiza a importância de desenvolver centros locais que atendam às especificidades culturais e linguísticas de cada país, garantindo assim um retorno econômico e a soberania tecnológica.

### A Competição Global

Enquanto o Brasil ainda está estruturando sua política de IA, países como México e Chile estão se destacando. O México tem atraído investimentos devido à sua proximidade com importantes polos tecnológicos globais. Por sua vez, o Chile é considerado um destino natural para operações de IA no Cone Sul, graças à sua matriz energética renovável e sua estabilidade regulatória.

De acordo com a NVIDIA, para avançar, também são necessários acordos comerciais e negociações diplomáticas. “Queremos oferecer chips e tecnologia a todos os países, mas isso requer políticas abertas e um diálogo constante com os governos”, comenta Aguiar.

### Ecossistema Nacional de IA

Apesar dos desafios, o Brasil já demonstra sinais de maturidade no campo tecnológico. Um exemplo disso é a ferramenta Amazônia IA, desenvolvida pela Widelabs e treinada em português. Para alcançar um reconhecimento global, no entanto, será vital investir na formação de profissionais, na pesquisa e na construção de data centers próprios.

Aguiar conclui que “a IA precisa se originar de diversos lugares para beneficiar a todos. Essa não é apenas uma questão tecnológica, mas também de soberania cultural, política e econômica. Aquele que dominar a IA terá uma influência significativa no futuro”.