Preparação para a batalha contra as fake news na era da IA

À medida que se aproximam as eleições de 2026, o uso de ferramentas para manipulação de imagens e vídeos tem apresentado avanços significativos. Especialistas alertam que essa evolução pode impactar diretamente as campanhas políticas e a escolha dos próximos governantes, caso não haja ações preventivas por parte da Justiça Eleitoral. O Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF) já começou a trabalhar em campanhas educativas, elaboração de cartilhas e parcerias com grandes empresas de tecnologia e agências de checagem para enfrentamento desse desafio. O tribunal tem promovido ações em escolas e universidades para levar informações à população.

Cientistas políticos, como André César, ressaltam que a inteligência artificial terá um papel ainda mais relevante nas eleições de 2026 em comparação com anos anteriores. Ele destaca que haverão mudanças significativas no Congresso Nacional, especialmente com a renovação de 54 cadeiras no Senado, onde dois senadores por estado serão eleitos.

Rodrigo Fragola, especialista em crimes cibernéticos, lembra que a manipulação de dados já causou problemas nas eleições de 2018, com a propagação de notícias falsas. Ele menciona a crescente popularidade das técnicas de “deepfake”, que utilizam inteligência artificial para criar vídeos e imagens que podem enganar eleitores. Para ele, é essencial que os eleitores verifiquem a autenticidade das informações que recebem, seguindo fontes confiáveis e buscando múltiplas referências antes de tomar uma decisão sobre seus votos.

O porta-voz do TRE-DF, Fernando Veloso, reafirma que a Justiça Eleitoral está vigilante frente a qualquer fator que possa comprometer a integridade do período eleitoral. O tribunal está firmando acordos com empresas de tecnologia para retirar do ar conteúdos que possam desacreditar o processo eleitoral. Além disso, as ações alcançam também idosos, que muitas vezes são mais suscetíveis às notícias falsas. Em 2025, o TRE-DF planeja iniciar campanhas nas redes sociais e disponibilizar materiais informativos.

A ministra substituta do TSE, Vera Lúcia Santana, destaca que o tribunal está constantemente atualizado em relação às novas tecnologias para prevenir a disseminação de desinformação que possa prejudicar a democracia. A legislação eleitoral que será aplicada nas eleições de 2026 deve ser totalmente consolidada até outubro deste ano, com as resoluções do TSE estabelecidas até março do próximo ano.

Apesar do aumento da sofisticidade das manipulações feitas por inteligência artificial, especialistas alertam que a responsabilidade de verificar a veracidade das informações recai sobre o eleitor. O advogado Guilherme Barcelos frisa a importância que o eleitor tem em conferir a autenticidade de postagens e vídeos, especialmente em grupos de mensagens. A legislação já proíbe o uso de conteúdos manipulados que possam influenciar de forma negativa a eleição.

A discussão sobre a adequação da legislação em relação às novas tecnologias também chega ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal, especialmente em relação ao Marco Civil da Internet. Este artigo estabelece que empresas de tecnologia só têm a obrigação de remover conteúdos inapropriados quando há uma ordem judicial, o que complica o combate à desinformação.

Um conceito relevante no contexto das deepfakes é o “vale da estranheza”, que se refere à maneira como as pessoas respondem a robôs que se parecem cada vez mais com humanos. Quando o robô é muito realista, pode causar um desconforto. Essa noção pode ajudar os eleitores a identificar vídeos manipulados, pois, se a entonação das falas parecer artificialmente linear, pode ser um sinal de desconfiança. Com a proliferação de grupos fechados em aplicativos de mensagens, onde informações são compartilhadas de maneira controlada, a conscientização sobre a veracidade dos conteúdos se torna ainda mais crucial.

Identificar conteúdo falso exige contexto e a habilidade de avaliar as informações criticamente, algo essencial para garantir que a escolha do eleitor seja baseada em dados verdadeiros e não manipulados.