Leucenas e acácias: espécies invasoras nas encostas da Grande Vitória

Nos anos 1980 e 1990, o plantio de árvores em áreas urbanas foi uma estratégia importante para enfrentar problemas como deslizamentos de terra e erosões. Na época, as cidades estavam se expandindo rapidamente, frequentemente sem a infraestrutura adequada, e as chuvas evidenciavam os riscos de solo exposto e desmatado.

Para combater esses problemas, técnicos e gestores públicos adotaram soluções rápidas, como o uso de árvores exóticas de crescimento rápido, como a leucena (Leucaena leucocephala) e as acácias (Acacia mangium e Acacia auriculiformis). Inicialmente, essas espécies ajudaram a estabilizar encostas na Grande Vitória, proporcionando uma cobertura verde que protegia a área de desastres naturais.

Contudo, essa solução temporária logo se transformou em um desafio ambiental. O plano era substituir essas árvores exóticas por espécies nativas da Mata Atlântica após a estabilização do solo, mas essa fase raramente foi implementada. Com o passar do tempo, a urbanização e as mudanças de prioridades orçamentárias resultaram na permanência da leucena nas encostas, onde cresceu de forma descontrolada.

Atualmente, as matas estão sendo invadidas por essas espécies, que se espalham rapidamente devido à produção abundante de sementes e à fácil dispersão por vento, água e animais. Regiões que antes apresentavam regeneração natural da floresta nativa agora são dominadas por monoculturas de leucenas e acácias, o que reduz a biodiversidade local, altera o microclima e dificulta o crescimento de outras plantas. Além disso, essas árvores podem modificar a química do solo, dificultando ainda mais o retorno da vegetação original.

Essa transformação de uma solução rápida em um problema ambiental atual coloca em risco a resiliência dos ecossistemas urbanos e periurbanos. Há discussões sendo conduzidas em diversas regiões do Brasil, incluindo o Espírito Santo, sobre a necessidade de substituir gradualmente espécies exóticas por nativas. Essa transição deve ser feita de forma planejada, evitando intervenções abruptas que poderiam gerar instabilidade e riscos.

A proposta envolve o plantio de árvores nativas que possam competir com as invasoras, oferecendo sombra e suprimindo o crescimento indesejado. Esse processo, embora demorado, é considerado viável e necessário.

No Espírito Santo, algumas iniciativas já estão em andamento, incluindo programas de reflorestamento e a utilização de pagamentos por serviços ambientais. Essas medidas buscam viabilizar financeiramente a recuperação ecológica e podem ser integradas aos planos municipais como ações de adaptação às mudanças climáticas.

Entretanto, para que esses projetos sejam bem-sucedidos, é crucial ter apoio político e a participação da sociedade. A conscientização de que a arborização deve garantir qualidade ecológica e não apenas quantidade é fundamental. Embora a leucena e a acácia tenham sido úteis em um primeiro momento, o objetivo atual é restaurar a floresta nativa e toda a biodiversidade que foi perdida.

Observadores podem notar a presença dessas árvores exóticas em diversas áreas, como praças, margens de rios e encostas. Esse cenário levanta a necessidade de se priorizar a substituição por plantas nativas, um esforço que pode contribuir significativamente para a recuperação dos ecossistemas locais.