Marcelo Rubens Paiva recorda época na USP e sua carreira literária

Marcelo Rubens Paiva, escritor, dramaturgo e jornalista, realizou uma palestra intitulada “Ainda Estou Aqui” na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) no dia 24 de outubro. O evento atraiu um auditório lotado, onde Paiva compartilhou suas experiências desde os tempos de estudante na ECA, interagiu com o público e respondeu a perguntas durante aproximadamente uma hora e meia.

Em sua palestra, Paiva recordou o início de sua trajetória na USP, que começou em 1982, logo após um acidente que o deixou tetraplégico em 1979. Ele comentou sobre a diferença na interação que teve com os colegas na ECA em comparação à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde estudou Engenharia Agrícola. Na Unicamp, ele era conhecido por ser um jovem músico e ativista, enquanto na ECA era um “cadeirante em meio a pessoas do ‘vale encantado do Rio Pinheiros’”. Apesar das dificuldades de acessibilidade na época, Paiva se sentiu acolhido pelos novos amigos, que não tinham preconceitos relacionados à sua condição.

Durante seu tempo na USP, ele destacou que o ambiente da ECA possibilitava a liberdade de expressão, mesmo em um período de repressão e censura durante a ditadura militar. Ele mencionou que, embora as restrições fossem rigorosas fora da Universidade, dentro dela havia espaço para atividades culturais e discussões que não eram permitidas na sociedade em geral. Também comentou sobre a forte presença militar em diversas esferas da vida pública, fazendo comparações com a política recente no Brasil.

Paiva também falou sobre seus livros, especialmente “Ainda Estou Aqui”, que se baseia em seu passado. Ele explicou a diferença entre a obra literária e sua adaptação cinematográfica realizada por Walter Salles em 2024. O escritor revelou que inicialmente sentia dificuldades em transformar suas experiências em palavras, mas encontrou inspiração em outros autores que usavam a autoficção para contar suas histórias. Ele mencionou que o filme não contém cenas de tortura, refletindo a perspectiva de sua mãe, Eunice Paiva, que enfrentou as dificuldades da época de uma maneira mais pessoal.

Ele fez uma reflexão sobre a importância do apoio que recebeu do editor Caio Graco Prado, que o incentivou a escrever “Feliz Ano Velho” em 1982, sua primeira obra publicada. Paiva destacou que já escrevia antes, mas o incentivo de Graco foi fundamental em sua carreira literária.

A palestra, evento promovido por professores e alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA, foi um momento para relembrar e compartilhar importantes lições de vida e literatura, destacando como as dificuldades podem ser transformadas em narrativa e arte.