O histórico de tentativas de mudança de regime desde 2025

Três dias após o início do conflito entre Israel e Irã, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou em entrevista à emissora americana Fox News que a possibilidade de uma “mudança de regime” no governo iraniano é real, considerando a fraqueza atual do governo de Teerã.

Enquanto isso, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou mensagens contraditórias sobre o futuro do aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo do Irã. Trump sugeriu que Khamenei é um “alvo fácil”, mas esclareceu que, por enquanto, não existem planos concretos para eliminá-lo fisicamente.

Não está claro quanto tempo essa incerteza durará. À medida que o conflito entre Israel e Irã se prolonga, a possibilidade de Israel e dos EUA buscarem não apenas desmantelar o programa nuclear do Irã, mas também derrubar o regime teocrático que está no poder há mais de 40 anos, parece aumentar.

### Os riscos de uma mudança de regime

Eckart Woertz, diretor de estudos do Oriente Médio em um instituto na Alemanha, ressalta que a mudança de regime imposta de fora é um conceito problemático. Segundo ele, é improvável que uma mudança ocorra facilmente e há muitos riscos associados. Um deles é que, com a derrubada do governo, a Guarda Revolucionária do Irã poderia assumir o controle, tornando o regime ainda mais agressivo. Outro risco é o colapso total do governo, semelhante ao que ocorreu no Iraque após a invasão dos EUA em 2003 e na Líbia em 2011. Esse cenário poderá gerar consequências imprevisíveis para toda a região.

Mudanças de regime promovidas por atores externos frequentemente violam a soberania nacional e raramente têm legitimidade democrática, resultando muitas vezes em um vácuo de poder e em instabilidades prolongadas.

### Casos anteriores de mudança de regime

Na história recente, várias ações militares internacionais para mudar regimes resultaram em instabilidade duradoura. Um desses casos foi o Afeganistão em 2001. Após os ataques de 11 de setembro, uma coalizão da Otan, liderada pelos EUA, derrubou o regime do Talibã, que abrigava a Al-Qaeda. Apesar do início promissor e das melhorias em alguns direitos civis, o país permaneceu inseguro e marcado por conflitos por duas décadas. Em 2021, o Talibã retomou o poder rapidamente após a retirada das tropas americanas, revertendo muitos avanços sociais.

Outro exemplo ocorreu no Iraque em 2003. Os EUA invadiram o país, alegando que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa, o que foi posteriormente desmentido. A tentativa de construir um novo governo rapidamente se transformou em uma guerra civil, com a ascensão do Estado Islâmico no vácuo de poder deixado pela ocupação.

A Líbia, em 2011, também vivenciou graves consequências após a intervenção militar da Otan durante a Primavera Árabe. O líder Muammar al-Gaddafi foi derrubado e assassinado, mas o país mergulhou em uma guerra civil entre milícias rivais que permanece até hoje. A Líbia vive um estado de caos, com violações de direitos humanos e conflitos constantes.

### Quais as chances para o Irã?

Diante do histórico de intervenções mal-sucedidas no Afeganistão, Iraque e Líbia, a ideia de uma mudança de regime no Irã levanta preocupações. Woertz destaca que um movimento interno forte seria necessário para concretizar essa mudança, e atualmente não observa tal movimento que possa derrubar o regime iraniano.

As tentativas externas de mudança de regime, como as do passado, foram frequentemente complexas e exigiram apoio interno para ter sucesso. Segundo Woertz, uma mudança só ocorreria com o apoio da população, o que é difícil sem uma ameaça externa comum que una as facções internas. Ele acredita que intervenções apenas com bombardeios aéreos não são uma solução eficaz e não garantem sucesso a longo prazo.