
Nos últimos dois anos, a situação no Oriente Médio se tornou mais tensa, com diversos eventos escalando os conflitos na região. No Iémen, os houthis, uma organização política e militar de orientação xiita, têm atacado navios comerciais. Enquanto isso, Israel intensificou suas operações militares em Gaza e no Líbano, e o Irã e Israel trocaram ataques com mísseis, levantando preocupações sobre uma possível guerra.
Em 13 de junho, Israel começou a realizar ataques aéreos em instalações militares e nucleares no Irã, o que intensificou ainda mais a tensão. Desde então, tanto Israel quanto Irã têm utilizado drones e mísseis em seus confrontos, incluindo alvos relacionados à infraestrutura energética de ambos os países.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, considerou a possibilidade de bombardear a planta de enriquecimento de Fordow, no Irã. As tensões entre ele e o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, resultaram em uma troca de ofensas. Um conflito mais amplo nesse cenário poderia afetar a estabilidade do Golfo Pérsico, que é responsável por um terço da produção mundial de petróleo. Após os primeiros ataques israelenses, o preço do petróleo Brent, referência global, subiu 10%, alcançando a marca de US$ 77 por barril.
O mercado de petróleo enfrenta desafios, incluindo interferências em transponders, que antes eram limitadas a áreas próximas ao porto iraniano, mas que agora afetam o transporte marítimo em todo o Golfo. Em 16 de junho, uma colisão entre dois petroleiros na costa dos Emirados foi causada por essa interferência.
Os embarques de petróleo iraniano também estão em suspensão, com imagens de satélite mostrando a Ilha de Kharg, que normalmente responde por 90% das exportações de petróleo do Irã, deserta. No entanto, até o momento, os danos causados pelos ataques israelenses têm sido limitados, já que o país tem focado em alvos destinados ao consumo interno do Irã e não em suas estruturas de exportação. Se essa situação continuar, é possível que os preços do petróleo permaneçam estáveis, mas uma escalada no conflito poderia levar a um aumento significativo, especialmente se Israel atacasse campos de petróleo ou instalações de exportação do Irã.
No mês passado, o Irã conseguiu exportar cerca de 1,8 milhões de barris de petróleo por dia, o que corresponde a quase 2% da demanda global. Um ataque à Ilha de Kharg poderia impactar gravemente essas entregas. O Irã também tem tentado diversificar suas rotas de exportação através de Jask, mas essa alternativa ainda é insuficiente em volume e vulnerável a ataques.
Em caso de interrupções mais severas, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, que possuem capacidade ociosa significativa, poderiam aumentar a produção para compensar a queda nas exportações do Irã. No entanto, essa ação poderia ser vista por Teerã como uma aliança com Israel, levando a possíveis retaliações. Além disso, esses países têm interesse em preços altos e já tentaram aumentar os preços significativamente nos últimos anos.
A possibilidade de os Estados Unidos intervir no conflito pode aumentar a pressão sobre o Irã, que poderia, por exemplo, tentar bloquear o Estreito de Ormuz. Este estreito é crucial, pois por ali passam mais de um terço do petróleo transportado por mar e um quinto do gás natural liquefeito do mundo. Historicamente, mesmo durante plenas hostilidades entre Irã e Iraque na década de 1980, os preços do petróleo se estabilizaram após uma alta inicial, ainda que uma ação mais drástica, como obstruir completamente o estreito, poderia ter efeitos consideráveis.
Porém, tal movimento seria extremamente arriscado para o Irã, já que o estreito também é vital para suas próprias exportações. As marinhas dos Estados Unidos e da China, por exemplo, estariam atentas a esse acesso, uma vez que ambas as nações dependem do petróleo da região.
Atualmente, estima-se que haja uma probabilidade de 15% a 20% de uma intervenção militar nessa área. Caso o Irã adotasse medidas extremas, a Arábia Saudita poderia redirecionar parte de suas exportações através de um oleoduto leste-oeste. Contudo, a maioria das exportações da região, como as do Iraque, Bahrein, Kuwait e Catar, depende de rotas pelo Estreito, o que torna uma interrupção significativa imprevisível e potencialmente desastrosa.
Se a situação se intensificar, os preços do petróleo Brent poderiam facilmente ultrapassar os US$ 100 por barril. A elevada concorrência no setor, junto com outros produtos geralmente transportados pelo estreito, como alimentos e fertilizantes, também poderia impulsionar aumentos de preços.
Em um cenário ainda mais alarmante, muitos dos principais campos de petróleo na região são vulneráveis a ataques iranianos, tornando difícil protegê-los eficazmente. Caso o Irã decidisse bombardear essas instalações, os preços poderiam aumentar acima de US$ 120 por barril.
A queda na liderança do Irã provocaria uma normalização dos preços do petróleo? A história sugere que os efeitos a longo prazo não seriam tão rápidos. Em mudanças de regime anteriores em países produtores, os preços tendem a estabilizar-se em níveis aproximadamente 30% mais altos do que antes dos conflitos, levando meses para retornarem a níveis mais baixos. Isso indica que os mercados de petróleo ao redor do mundo estão se tornando cada vez mais instáveis.