
Guilherme Derrite, ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, deixou seu cargo a pedido do governador Tarcísio de Freitas para assumir a relatoria do Projeto de Lei 5582/2025, conhecido como PL Antifacção. O movimento o posicionou no centro do cenário político em Brasília, especialmente com as eleições gerais de 2026 se aproximando. A proposta, que visa combater o crime organizado, é uma oportunidade para Derrite se projetar como candidato ao Senado, cargo que será disputado por dois representantes de cada estado.
Entretanto, a tramitação do projeto não tem sido simples. Em virtude de constantes alterações no texto, tanto a bancada governista quanto aliados de Derrite, como a bancada da bala, expressaram suas insatisfações. Até agora, o relatório passou por quatro versões e pode ter uma quinta. Essas modificações, além de evidenciar a fragilidade na articulação política de Derrite, trouxeram um impacto negativo em seus aliados, que já desejavam maior protagonismo no tema.
Um dos pontos mais polêmicos do projeto foi a definição do papel da Polícia Federal (PF) no combate ao crime organizado. Inicialmente, a proposta limitava a atuação da PF a ações autorizadas pelos governadores estaduais, o que gerou críticas da própria corporação. Após a pressão, Derrite revisou o texto para permitir que a PF atue de forma cooperativa com as polícias locais, sempre que necessário.
Na mais recente atualização, foram definidos critérios sobre o financiamento das operações policiais. O Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-Fim da Polícia Federal (Funapol) irá financiar ações conduzidas diretamente pela PF, enquanto as operações das polícias locais receberão recursos do fundo fluminense.
Outro ponto polêmico foi a decisão de Derrite de não equiparar crimes de organizações criminosas ao terrorismo, o que poderia abrir espaço para intervenções internacionais, como as que ocorrem na Venezuela. Essa mudança gerou discussões sobre a real capacidade de Derrite de conduzir a tramitação do projeto no Congresso.
Diante da falta de consenso, governadores do Consórcio da Paz, composto apenas por líderes de direita, pediram ao presidente da Câmara, Hugo Motta, que a votação do projeto fosse adiada, até que os âmbitos do Senado e do Supremo Tribunal Federal se pronunciassem favoravelmente.
A situação gerou incertezas sobre a capacidade de articulação de Derrite, que segundo analistas políticos pode ter sofrido uma “derrota significativa”, especialmente considerando que os governadores que solicitaram o adiamento são aliados políticos e fazem parte do mesmo grupo ideológico.
Apesar das turbulências, analistas afirmam que, no cenário eleitoral, Derrite ainda é visto como um candidato viável ao Senado, especialmente com a possível saída de Eduardo Bolsonaro, que enfrenta problemas legais. Caso isso ocorra, os votos que seriam dele poderiam migrar para Derrite, que é bem visto dentro da direita.
Derrite também conta com o apoio do governador Tarcísio, que já o elogiou e indicou que ele deve continuar no cargo até o período de desincompatibilização, que é quando candidatos devem se afastar de seus cargos públicos para concorrer às eleições. Analistas ainda apontam que, considerando o perfil do eleitorado paulista, a tendência é que Derrite cresça ainda mais, principalmente com a possível saída de outros candidatos fortes da corrida eleitoral.
A disputa pela relatoria do PL segue atraindo atenções. Durante uma sessão no Senado em homenagem a policiais feridos e mortos, Derrite fez um discurso lembrando o posicionamento do presidente Lula sobre o tratamento dado a usuários de drogas, enfatizando a necessidade de não tratar criminosos como vítimas.
No entanto, essa polarização tem sido criticada dentro do próprio Congresso. Membros da chamada bancada da bala expressaram insatisfação com a escolha de Derrite, que, segundo eles, chegou ao cargo sem o devido envolvimento prévio com as pautas de segurança.
Além disso, a imagem de Derrite é marcada pelo aumento da letalidade policial em São Paulo. Segundo dados, houve um significativo aumento de assassinatos cometidos pela polícia no estado em 2024. Derrite tenta se posicionar como um político moderado, buscando conquistar o apoio da população, que frequentemente defende o endurecimento das leis contra o crime.
No contexto da segurança pública, 22 entidades que representam policiais civis e militares de São Paulo planejam uma manifestação contra Derrite e Tarcísio, alegando descumprimento de promessas feitas durante a campanha de 2022. Essas reclamações podem complicar ainda mais a situação para Derrite enquanto ele tenta construir sua candidatura para as eleições de 2026.

