Madeira do Paraná contribui para descarbonização na construção civil

O Paraná ocupa a terceira posição no Brasil em área florestal plantada, com aproximadamente 1,2 milhão de hectares. Esses dados foram divulgados pela Pesquisa da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A grande área de florestas, aliada à eficiência das indústrias locais, coloca o estado em destaque na descarbonização da construção civil, promovendo o uso da madeira como matéria-prima.

O estado se destaca ainda por ser um dos maiores exportadores de produtos de madeira sólida. Ailson Loper, diretor da Associação Paranaense das Empresas da Base Florestal (APRE Florestas), afirma que cerca de 15% dos empregos gerados no setor florestal do Brasil estão no Paraná. Isso se deve à diversidade da cadeia produtiva no estado, que distribui a riqueza entre os envolvidos.

Breno Campos, chefe do Departamento de Florestas Plantadas e Sustentabilidade da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab-PR), enfatiza que o estado tem potencial para agregar valor à produção florestal, promovendo a madeira na construção civil. Ele considera isso um avanço na interseção entre sustentabilidade, tecnologia e desenvolvimento econômico.

Historicamente, a madeira não teve um papel significativo na construção civil brasileira, geralmente sendo vista como uma opção inferior em comparação ao concreto e ao aço. No entanto, essa visão vem mudando. O XVIII Encontro Brasileiro em Madeiras e em Estruturas de Madeira (Ebramem) reportou um aumento notável na produção da madeira engenheirada, um tipo de madeira tratada que apresenta características inovadoras e de alta qualidade.

Patrick Reydams, engenheiro florestal, aponta que o Brasil estabeleceu suas próprias normas para o uso da madeira na construção, o que possibilitou maior segurança e tranquilidade nas obras. Produtos como o CLT (Cross Laminated Timber) e o MLC (Madeira Laminada Colada) têm se destacado pela resistência e desempenho térmico, competindo com materiais mais tradicionais.

Em 2024, a produção de madeira engenheirada no Brasil alcançou 10 mil metros cúbicos, um aumento significativo em relação aos 4 mil metros cúbicos de 2019. A expectativa é que, nos próximos dez anos, a produção global desse material cresça em 115%. Campos salienta que essa expansão demanda florestas plantadas manejadas de forma sustentável e impulsiona a inovação tecnológica no setor.

Para Nilson Sarti, vice-presidente de Sustentabilidade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a aceitação da madeira na construção civil pode ser comparada ao processo de popularização de outras matérias-primas, como o drywall, que enfrentou resistência inicial mas hoje é amplamente utilizado.

Sarti defende a necessidade de formação de mais profissionais voltados para o uso da madeira na arquitetura e sugere que a indústria amplie sua produção nessa área, criando bases florestais específicas para a construção com madeira. Ele acredita que o Brasil está avançando nesse sentido.

O crescimento do uso de madeira na construção civil pode beneficiar tanto a descarbonização, reduzindo a pegada de carbono, quanto o combate ao déficit habitacional, que atualmente é de quase 6 milhões de moradias no país. A construção com madeira é considerada mais ágil e pode ser aplicada em programas de habitação como o Minha Casa Minha Vida.

O Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) planeja criar a primeira certificadora de madeira engenheirada do Brasil, com o objetivo de garantir segurança e qualidade nos processos construtivos. Reydams explica que essa certificação é essencial para aumentar a confiança no setor e permitir a realização de obras maiores e mais complexas.

A nova certificação deve impulsionar a competitividade do setor florestal e da construção civil no Paraná, contribuindo para o aumento da capacidade de exportação, geração de empregos e fortalecimento das cadeias produtivas do estado.