
A semana começou com uma pressão significativa sobre os preços das commodities agrícolas no Brasil. Essa situação é resultado de condições climáticas favoráveis, uma supersafra no país e influências geopolíticas. O milho e o café se destacam nas quedas de preços, com previsões de colheitas robustas somadas a impactos de tarifas internacionais.
De acordo com Guto Gioielli, especialista no setor, a produtividade da segunda safra de milho, conhecida como safrinha, tem superado as expectativas. A continuidade das chuvas até junho tem beneficiado as lavouras nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. Produtores relatam que as recentes geadas no Sul do Brasil não provocaram danos significativos, já que, em várias áreas, o milho resistiu ao frio.
Atualmente, a colheita está começando, com cerca de 20% da área já colhida. O mercado antecipa uma oferta alta de grãos, com a expectativa de que a entrada significativa de milho em julho e agosto pressione ainda mais os preços. Por exemplo, o contrato do milho com vencimento em setembro caiu para R$ 62, e analistas indicam que, se esse valor for rompido, os preços podem descer até R$ 55.
No segmento do café, a situação também é desafiadora. A colheita atual tem superado as previsões, tanto para o café arábica quanto conilon, devido ao clima favorável, que melhorou a produtividade das plantações. Mesmo o frio intenso não causou prejuízos à safra. Além disso, a natureza bianual da colheita de café sugere que a próxima safra, que tende a ser maior, pode manter a oferta elevada em 2025, o que reforça a expectativa de queda nos preços.
Recentemente, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma tarifa adicional de 10% sobre produtos de países que fazem parte do grupo Brics e do Irã. Essa medida impacta diretamente o café brasileiro, dificultando sua competitividade no mercado norte-americano e pressionando os preços internacionalmente.
A soja também segue a mesma tendência de queda. Apesar de algumas oscilações nos preços, o grão está testando níveis mais baixos. Os derivados da soja, como óleo e farelo, também tiveram quedas significativas, com recuos que chegam a 1,7%. A valorização do real em relação ao dólar nos últimos dias está afetando as exportações do setor agrícola, tornando os produtos brasileiros menos competitivos no exterior.
No mercado de boi gordo, a situação é um pouco mais incerta. A oferta de fêmeas descartadas nessa época, somada ao consumo interno fraco, tem limitado o aumento dos preços. Porém, um milho mais barato pode incentivar o confinamento dos bois, contribuindo para uma recuperação de preços a médio prazo. Há expectativas de que o ciclo da pecuária entre em uma fase de alta, com a redução do abate de fêmeas e uma possível valorização do boi a partir de 2025.