Wagner encerra missão no Mali

Em Bamako, capital do Mali, as autoridades não confirmam nem negam a saída dos mercenários do Grupo Wagner, um grupo paramilitar russo, após três anos e meio de atuação no país. O governo do Mali sempre denominou esses indivíduos como “instrutores russos”, negando a presença de mercenários estrangeiros em seu território.

Os comandantes da Wagner afirmaram que sua missão foi completada com sucesso. No entanto, outro grupo paramilitar russo, chamado “Corpo da África”, assumirá as funções anteriormente desempenhadas pela Wagner. Essa mudança de nome não altera os objetivos, já que o Corpo da África seguirá atuando para proteger os interesses russos na região. A maioria dos membros da Wagner em Mali será reintegrada ao novo corpo e permanecerá em cidades estratégicas, incluindo a própria Bamako.

A criação do Corpo da África é vista como parte da estratégia da Rússia para expandir sua influência militar na África, especialmente diante da presença de potências como a Europa, Estados Unidos e China. Este novo grupo está ativo em cinco países do continente: Líbia, Burkina Faso, Mali, República Centro-Africana e Níger.

A presença da Wagner em Mali começou em 2021, após um golpe militar que levou o coronel Assimi Goïta ao poder. Goïta era contra a presença das forças francesas e da missão de paz da ONU, o que culminou na retirada das tropas francesas em 2022 e, mais recentemente, na decisão de retirar a missão da ONU. As forças do coronel Goïta, junto com a Wagner, se concentraram no combate a grupos armados, incluindo aqueles ligados ao terrorismo, como Jamaat al-Nusra al-Islam wal-Muslimeen e o Estado Islâmico no Grande Saara.

Entretanto, os confrontos com o grupo rebelde tuaregue, a Coordenação dos Movimentos de Azawad, foram retomados. O cessar-fogo que havia sido mantido entre 2015 e 2021 chegou ao fim devido a violações por parte da junta militar e pela atuação da Wagner.

O Corpo da África, que conta com ex-membros da Wagner e novos recrutas, foi formado pelo Ministério da Defesa da Rússia logo após a morte do comandante da Wagner. Essa mudança indica um controle mais direto da defesa russa sobre as operações, diferente da liderança anterior de Yevgeny Prigozhin. Prigozhin foi um aliado próximo do Kremlin, mas acabou se rebelando contra o Estado Maior russo, levando à sua morte em um acidente de avião em julho de 2023.

A contribuição da Wagner na luta contra organizações islâmicas extremistas gerou controvérsias. Apesar de alegações de que a força ajudou a recuperar cidades como Kidal, a segurança em muitas áreas do Mali ainda não foi restabelecida. Além disso, a Wagner foi acusada de abusos contra civis e crimes de guerra, como o massacre de aproximadamente 500 pessoas em Moura em março de 2022.

Os mercenários da Wagner enfrentaram derrotas significativas. Em agosto de 2024, uma operação conjunta entre as forças armadas do Mali e a Wagner resultou em perdas severas na cidade de Tinzaouatène, na fronteira com a Argélia, onde separatistas e jihadistas derrotaram as forças russas e malinesas.

Embora o nome tenha mudado, a presença russa no Mali permanece inalterada.