Parlamento do Irã apoia bloqueio do estreito de Ormuz

No dia 29 de abril de 2024, um barco de alta velocidade da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã navega pelo Golfo Pérsico durante um desfile naval em referência ao Dia Nacional do Golfo Pérsico, próximo à usina nuclear de Bushehr.

Recentemente, o Parlamento do Irã aprovou a proposta de fechar o Estreito de Ormuz. Essa decisão ocorre em resposta a ataques dos Estados Unidos a instalações nucleares iranianas. Contudo, especialistas alertam que o Irã poderia ser o principal prejudicado caso se concretize essa medida, já que isso poderia afastar seus vizinhos e parceiros comerciais.

A responsabilidade acerca dessa decisão agora recai sobre o Conselho de Segurança Nacional do país. O fechamento do estreito, que é uma das principais rotas de passagem de petróleo do mundo, pode levar a um aumento significativo nos preços da energia e intensificar as tensões geopolíticas, especialmente com os Estados Unidos pedindo à China que intervenha para evitar a obstrução.

Vandana Hari, fundadora da empresa de inteligência em energia Vanda Insights, comentou que a possibilidade de fechamento é “extremamente baixa”. Se o Irã optar por bloquear o estreito, arriscaria se tornar inimigo de países produtores de petróleo vizinhos. Os dados da Administração de Informação de Energia dos EUA indicam que, no primeiro trimestre de 2025, o Irã já havia transportado 1,5 milhão de barris de petróleo por dia via Estreito de Ormuz.

Além disso, um bloqueio afetaria o mercado asiático, particularmente a China, que representa a maior parte das exportações de petróleo iraniano. Hari enfatizou que essa ação traria mais danos ao próprio Irã do que benefícios.

Andrew Bishop, chefe de pesquisa de políticas da consultoria Signum Global Advisors, reforçou a ideia de que o Irã não deseja antagonizar a China. Interromper o fornecimento de petróleo também exporia a infraestrutura de produção e exportação do Irã, atraindo represálias dos Estados Unidos e de Israel.

É importante destacar que, até o momento, não há indicações de ameaças à navegação comercial no Estreito de Ormuz. O Centro Conjunto de Informações Marítimas informou que embarcações associadas aos Estados Unidos têm transacionado pela área sem interrupções, o que é considerado um sinal positivo.

O Estreito de Ormuz é vital, pois conecta o Golfo Pérsico ao oceano aberto, com cerca de 20% de todo o petróleo do mundo passando por ali. A Administração de Informação de Energia dos EUA considera o estreito o “principal ponto crítico de trânsito de petróleo no mundo”.

Bishop destacou que as operações do Irã na região provavelmente não serão extremas, mas sim em um contínuo que varia de interrupção total a nenhuma. A estratégia ideal, segundo ele, seria causar uma leve interrupção no fluxo de petróleo para afetar os EUA, mas sem provocar uma resposta severa.

As consequências de um fechamento do estreito afetariam não apenas o Irã, mas também países vizinhos, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Catar. De acordo com estimativas, isso poderia resultar em mais de 17 bilhões de barris de petróleo fora do mercado, gerando escassez nas refinarias regionais e atingindo mercados na Ásia, na Europa e na América do Norte.

A produção e o transporte de gás natural também seriam severamente impactados, com o Catar, que exporta cerca de 77 milhões de toneladas métricas de gás por ano, ficando impossibilitado de atender mercados-chave. Isso representa cerca de 20% da oferta global de GNL (gás natural liquefeito).

Alternativas para o transporte de petróleo e gás do Oriente Médio são limitadas, e a capacidade dos oleodutos na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos só comportaria 2,6 milhões de barris por dia. Em comparação, o Estreito de Ormuz é responsável pelo transporte de cerca de 20 milhões de barris por dia.

As possibilidades de aumento nos preços da energia são reais, e a Goldman Sachs estima que o mercado já esteja incorporando um risco geopolítico de aproximadamente 12 dólares. Se o fluxo de petróleo através do estreito cair pela metade durante um mês e depois se mantiver em 10% abaixo dos níveis normais por mais 11 meses, os preços do Brent poderiam atingir até 110 dólares por barril. Atualmente, os futuros do barril de Brent estão em aproximadamente 78,95 dólares, enquanto os futuros do WTI são de 75,75 dólares.