
Um Olhar sobre Gregório Bezerra e sua Luta no Contexto Político Brasileiro
Gregório Bezerra, um importante figura do Partido Comunista do Brasil, é lembrado pelo seu papel em movimentos sociais e pela coragem demonstrada em momentos críticos da história do país. Uma frase emblemática dele resume sua trajetória: “Em 1935, eu tinha armas, mas não tinha uma massa organizada. Em 1964, eu tinha o povo organizado, pronto para revolução, mas não tinha as armas.” Sua vida se entrelaça com episódios marcantes do século XX e sua luta por justiça social e direitos trabalhistas.
A Infância Difícil
Gregório nasceu em Panelas, na Zona da Mata de Pernambuco. Desde pequeno, teve que trabalhar no campo para ajudar a família. Com apenas quatro anos de idade, já enfrentava desafios que o levaram a fugir para o Recife, onde viveu nas ruas. Na adolescência, ele trabalhou em diversas funções, como pedreiro e carvoeiro. Esse contexto de precariedade o aproximou das ideias socialistas que começavam a ganhar força entre os trabalhadores.
Ele recorda que, em 1917, começou a se envolver nas lutas sociais, participando ativamente do movimento operário pernambucano. Em 1922, Gregório se alistou no Exército, onde teve a oportunidade de se aprofundar em conceitos políticos importantes da época.
Início da Luta Política
Após a sua passagem pelo Exército, Gregório buscou emprego e se deparou com a exigência de ter uma carta de reservista. Isso o levou a se alistar. No ambiente militar, ele teve contato com ideias de esquerda. Segundo o historiador Pablo Porfírio, o Exército brasileiro, antes da Segunda Guerra Mundial, incluía setores que dialogavam com essas ideias.
Em suas memórias, Gregório relata sua transformação ao ler sobre história do socialismo e lutas sociais: “Descobri a verdade, finalmente. Inspirado no exemplo do povo soviético, achei o caminho da libertação do Proletariado e das massas Camponesas”.
Intentona Comunista
O nome de Gregório é frequentemente associado ao movimento da Intentona Comunista, que ocorreu em 1935. A Aliança Nacional Libertadora (ANL), formada por diferentes setores insatisfeitos com o governo de Getúlio Vargas, buscava combater o avanço do fascismo. Defendia a suspensão do pagamento da dívida externa e melhorias nos direitos trabalhistas e sociais.
esse levante, liderado por Luiz Carlos Prestes, teve início em Natal e se espalhou para Pernambuco. No entanto, a tentativa de revolução acabou mal-sucedida, levando à morte de cerca de 700 pessoas e deixando um rastro de repressão e violência. Gregório foi preso, ferido e submetido a torturas, e recebeu uma pesada condenação de 27 anos de prisão.
Carreira Política e Repressão
Com o fim do Estado Novo em 1945, Gregório foi eleito deputado constituinte pelo Partido Comunista e se destacou como um dos mais votados de Pernambuco. Essa época foi marcada por um crescimento do movimento comunista no Nordeste, onde cidades como Jaboatão dos Guararapes se tornaram conhecidas por sua forte presença política à esquerda.
Entretanto, em 1948, seu mandato foi cassado em um clima de repressão política crescente. O governo de Eurico Gaspar Dutra criminalizou as atividades do Partido Comunista, levando Gregório à clandestinidade, onde continuou sua luta pelas causas sociais.
Golpe Militar e Tortura
Em 1964, com a instauração do regime militar, Gregório estava organizando camponeses na Zona da Mata. No dia seguinte ao golpe, foi preso e submetido a torturas brutais, incluindo agressões físicas e queimaduras. Ele permaneceu preso por 19 anos, sendo libertado em 1969 após negociações que envolviam a libertação do embaixador americano.
Após um período no exílio em Moscou, retornou ao país com a anistia em 1979. Candidatou-se a deputado em 1982, mas não chegou a assumir o cargo, ficando na suplência. Gregório faleceu em 1983, aos 83 anos, em São Paulo.
Legado e Memória
A história de Gregório e de outras vítimas do regime militar é frequentemente esquecida. Embora muitos se lembrem dos eventos de 1968, as lutas dos anos anteriores e a resistência dos que lutavam por direitos relacionadas à terra e à justiça social ainda precisam ser reconhecidas.
O historiador Pablo Porfírio destaca a importância de valorizar essa memória, que toca em questões profundas sobre o poder e a justiça social no Brasil. Ao rememorar figuras como Gregório Bezerra, a sociedade se depara com legados de resistência e a luta contínua por um Brasil mais justo e igualitário.