Moradora da Favela do Moinho alerta sobre prisões em série em SP

Tensão na Favela do Moinho Após Prisões

Recentemente, uma operação policial na Favela do Moinho, localizada no centro de São Paulo, resultou na prisão de sete pessoas, deixando os moradores preocupados e temerosos. Moradores que preferem manter seus nomes em sigilo expressaram medo de represálias, com uma residente declarando: “Agora vão entrar e levar todo mundo preso”.

A ação policial começou cedo, por volta das 6h de uma segunda-feira, e resultou na detenção de Alessandra Moja Cunha e sua filha Yasmin, que são líderes de uma associação de moradores da comunidade. Além delas, cinco homens foram detidos na operação comandada pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP), com apoio da Polícia Civil e da Polícia Militar, cumprindo mandados de prisão e busca no local.

Os prisioneiros foram apresentados em audiência de custódia antes que seus advogados tivessem acesso às informações do processo. Segundo o advogado Flavio Campos, essa prática visa fortalecer a alegação de que os acusados merecem estar presos, tornando mais difícil a defesa.

Alessandra alega ter sido torturada durante a detenção. Segundo relatos de Amanda Amparo, assessora do deputado estadual Eduardo Suplicy, Alessandra afirmou que foi submetida a choques elétricos e agressões físicas por se negar a fornecer a senha de seu celular. Amparo também relatou que Alessandra mostrou marcas no rosto, resultado das agressões.

Além das acusações de tortura, há denúncias de que policiais teriam plantado drogas na residência de Alessandra para justificar as prisões. Moradores expressaram preocupação com a possibilidade de serem alvo das mesmas ações violentas, com um deles, Antonio, mencionando a possibilidade de precisar abandonar sua casa.

Alessandra é irmã de Leonardo Monteiro Moja, conhecido como Léo do Moinho, que foi preso em agosto de 2024. Ele é apontado como líder de uma facção criminosa e suspeito de tráfico de drogas na região, segundo o MP-SP. A investigação indica que Alessandra teria atuado como intermediária entre seu irmão e outras organizações do crime.

Os moradores do Moinho veem as prisões como parte de um plano para forçar a saída da comunidade, que é a última favela no centro de São Paulo. A área vive um processo de especulação imobiliária devido a projetos do governo para a construção de uma estação de trem e um parque.

Alessandra e sua filha estavam na linha de frente das denúncias contra abusos enfrentados pelos habitantes durante o processo de desocupação. Outro morador, Antonio, expressou seu medo ao afirmar que a situação os leva a considerar deixar a comunidade, assim como muitos outros já fizeram.

Os detidos, incluindo Alessandra, Yasmin e outros cinco homens, foram levados para o Centro de Detenção Provisória da região e a Penitenciária Feminina. O MP-SP classificou a operação, chamada de Operação Sharpe, como uma medida para desmantelar um grupo criminoso que estaria dificultando o trabalho da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) na remoção de famílias da área.

Desde o início da desocupação, o barulho de helicópteros tem sido frequente na favela. O local, que pertence à União, deverá ser transformado em parque e receber uma nova estação de trem. O governo prometeu subsídios de R$ 250 mil para as famílias que devem deixar a comunidade, e até agora mais de 500 famílias já se mudaram, restando cerca de 250.

O embargo e a demolição de casas no Moinho continuam, mesmo após promessas de respeito aos acordos com os moradores. Muitas pessoas, como Antonio, expressam medo e incerteza sobre o futuro, enquanto tentam encontrar novas moradias em meio ao clima de tensão e insegurança na comunidade.