Tensão comercial entre Brasil e EUA aquece o mercado na semana

Na última semana, a situação econômica e política do Brasil ficou marcada por incertezas na relação com os Estados Unidos, aumento da inflação e um olhar atento às decisões do Banco Central.

Os investidores seguem preocupados com a possível imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelos EUA, que está programada para entrar em vigor em 1º de agosto. Embora haja uma expectativa de avanço nas negociações entre os EUA e a União Europeia, o clima no Brasil continua tenso, especialmente por conta da ausência de um embaixador dos EUA em Brasília, o que dificulta o diálogo. No entanto, houve uma leve melhora nas conversas após a interação entre o vice-presidente Geraldo Alckmin e o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. Frente à possibilidade de não haver um acordo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que o governo está preparando medidas para ajudar setores afetados e buscando novos mercados para as exportações.

Em uma decisão significativa, o governo liberou R$ 20,6 bilhões em despesas referentes a 2025, reduzindo o bloqueio de gastos de R$ 31 bilhões para R$ 10,7 bilhões. A nova previsão para o déficit primário passou para R$ 26,3 bilhões, o que representa 0,2% do PIB. Essa alteração foi baseada em estimativas de incremento na arrecadação, principalmente devido ao aumento do IOF e receitas antecipadas do pré-sal. Essa mudança gerou críticas no mercado, que esperava um empenho maior para alcançar a meta de déficit zero.

A inflação também preocupa, tendo registrado um crescimento de 0,33% segundo o IPCA-15 de julho, superando as expectativas de 0,30% e o índice de junho, que foi de 0,26%. O Comitê de Política Monetária (Copom) realizará uma reunião na próxima semana, onde a expectativa é que mantenha a taxa Selic em 15%. O mercado aguardará a ata dessa reunião, que pode indicar os próximos passos da política monetária brasileira.

Nos Estados Unidos, 83% das empresas listadas no S&P 500 reportaram lucros acima das expectativas, gerando otimismo nas bolsas. No entanto, as tarifas estabelecidas pelo governo anterior começaram a afetar os preços. A General Motors, por exemplo, revisou sua previsão de lucro para baixo em US$ 1 bilhão, pois decidiu não repassar completamente os custos ao consumidor. Já em setores como brinquedos e eletrodomésticos, os aumentos de preços estão sendo repassados, contribuindo para a pressão inflacionária. O Federal Reserve (Fed) deve manter as taxas de juros na próxima reunião, mas a inflação, especialmente nos serviços, dificulta a possibilidade de cortes a curto prazo.

Em relação ao comércio internacional, há expectativas de que um acordo entre EUA e China seja assinado em 12 de agosto, embora a prorrogação por mais 90 dias seja uma possibilidade. As exportações de microchips e terras raras entre os dois países estão voltando a se normalizar. Na Europa, os EUA e a União Europeia estão se aproximando de um novo acordo tarifário de 15%. Além disso, o Reino Unido firmou um acordo de livre-comércio com a Índia, o primeiro em mais de uma década.

Os investidores estrangeiros estão diminuindo sua exposição ao Brasil. Mesmo com ganhos acumulados no ano, como o aumento de mais de 10% no Ibovespa e IFIX em 2025, houve uma retirada de R$ 4,8 bilhões da B3 até o dia 23 de julho. A instabilidade política e a falta de ajustes fiscais estão elevando a percepção de risco, fazendo com que o cenário atual seja comparado ao do governo Dilma Rousseff, caracterizado por dificuldades fiscais e incertezas econômicas.