Lula responde a tarifa dos EUA e ameaça retaliação

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira, 9 de agosto, uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros. A medida entrará em vigor a partir de 1º de agosto e foi comunicada em uma carta publicada em sua rede social.

Em resposta, o governo brasileiro, por meio do Itamaraty, devolveu a carta ao embaixador dos EUA, considerando o conteúdo ofensivo e repleto de erros factuais sobre a relação entre os dois países. O Itamaraty ressaltou que a carta contém afirmações inverídicas e criticou as acusações de Trump, que apontou um déficit comercial dos EUA com o Brasil.

Em defesa do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou que a tarifa de 50% será respondida conforme a Lei de Reciprocidade Econômica, que permite que o Brasil suspenda concessões comerciais em resposta a medidas unilaterais que afetem sua competitividade.

Além da tarifa, o documento de Trump também fez críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e defendeu o ex-presidente Jair Bolsonaro, chamando os processos contra ele de "caça às bruxas". Trump acusou o STF de emitir ordens secretas para censurar redes sociais nos EUA.

No fim da noite, o governo brasileiro contestou as acusações, alegando que os EUA estão interferindo no processo judicial relacionado ao movimento de 8 de janeiro, onde o ex-presidente Bolsonaro é réu. O governo deixou claro que qualquer aumento nas tarifas será enfrentado com a Lei de Reciprocidade.

Entre os produtos que podem ser afetados pela nova tarifa estão três importantes commodities brasileiras:

  1. Petróleo bruto: Em 2024, o Brasil exportou mais de 102 milhões de barris, principalmente para as refinarias da Costa do Golfo dos EUA.

  2. Ferro e aço semimanufaturado: As exportações totalizaram US$ 3,5 bilhões, embora tenha havido uma queda em relação a anos anteriores.

  3. Café verde: Com exportações de US$ 1,9 bilhão em 2024, o Brasil representa 35% do mercado americano de café verde.

Com a imposição da nova tarifa, exportadores brasileiros poderão enfrentar perda de competitividade, obrigando muitos a buscar novos mercados e, possivelmente, a oferecer descontos nos preços, o que pode afetar as margens de lucro e aumentar estoques no mercado interno.

A decisão de Trump provocou reações diversas. Apoiadores de Bolsonaro celebraram a tarifa como uma medida contra o governo Lula e o STF, enquanto setores econômicos expressaram preocupação. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou a situação como grave e destacou a importância de um diálogo urgente, uma vez que a relação comercial entre os dois países gera empregos e renda significativa em território brasileiro.

A Frente Parlamentar da Agropecuária pediu cautela e diplomacia firme, alertando para possíveis consequências negativas no câmbio e na competitividade das exportações agrícolas. A Câmara de Comércio Brasil-EUA manifestou preocupação com os impactos que a tarifa pode trazer para o emprego e a produção no Brasil.

Trump também ameaçou retaliar se o Brasil decidir aumentar suas tarifas em resposta. Ele mencionou que qualquer aumento aplicado por Brasília será somado às tarifas impostas pelos EUA. Analistas acreditam que essa medida possui um caráter protecionista e pode estar alinhada com a estratégia eleitoral de Trump.

Após o anúncio da tarifa, as ações da Embraer, por exemplo, caíram cerca de 8% no mercado financeiro. A notícia também pressionou o dólar e contribuiu para a incerteza em relação à política monetária do Brasil, dificultando previsões sobre a trajetória da taxa Selic, que atualmente está em 14,75%.