Governo prepara estrutura para CNU em 2027

O governo federal está se preparando para que o Concurso Nacional Unificado (CNU) se torne um certame realizado a cada dois anos, com a próxima edição prevista para 2027. Esther Dweck, ministra da Gestão e da Inovação, revelou em entrevista que a intenção é tornar o concurso uma política permanente, assim como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para 2026, não haverá edição, mas espera-se que as novas edições comecem em 2027. O objetivo é oferecer menos vagas por área, mas de maneira mais frequente, evitando assim grandes descompassos entre diferentes gerações no serviço público.

Neste ano, a segunda edição do CNU tem 3.652 vagas disponíveis em 36 órgãos públicos, com salários iniciais que podem chegar até R$ 16 mil. As inscrições estão abertas até o dia 20 de julho, com uma taxa de R$ 70, que é a mesma para cargos de nível superior e médio.

A frequência do CNU é uma resposta à média de idade avançada no setor público federal. A estimativa do governo é que cerca de 181 mil servidores se aposentem entre 2024 e 2035. A ministra Dweck afirmou que foi realizado um levantamento para identificar onde há uma falta de profissionais qualificados, embora o concurso não supra toda a demanda do setor. De acordo com a ministra, a contratação de novos servidores é um passo necessário, mesmo que em números reduzidos.

O concurso deste ano terá um edital unificado, organizado em nove blocos temáticos. Um aspecto importante é a regra que garante que as mulheres representem pelo menos metade das classificações para a prova discursiva, em cada cargo e modalidade de cota. No CNU de 2024, as mulheres foram 56% do total de inscritos, mas apenas 37% das aprovadas na primeira classificatória. Essa diferença motivou a criação da nova política de inclusão.

Além da equidade de gênero, o CNU também implementará cotas para pessoas negras, indígenas e quilombolas. Recentemente, o Ministério Público Federal (MPF) solicitou à Justiça do Distrito Federal a suspensão imediata do concurso, alegando que falhas estruturais ainda não foram corrigidas, o que poderia comprometer a eficácia das cotas raciais.

O MPF também questiona os resultados obtidos nas bancas de heteroidentificação, que reprovam algumas autodeclarações de candidatos negros. Nesses processos, há um grupo de cinco avaliadores que deve passar por treinamentos para determinar se a autodeclaração é verdadeira. A autodeclaração é confirmada caso três membros do grupo votem a favor. No primeiro CNU, aproximadamente 82% tiveram suas declarações validadas.

Para este ano, houve alteração nesse processo. Se um candidato não tiver a confirmação da maioria na banca, mas receber pelo menos um voto favorável, ele poderá solicitar uma reavaliação. Se a nova banca também confirmar sua autodeclaração, ele terá acesso à cota. Aqueles que não comparecerem à banca ainda poderão participar do concurso na ampla concorrência, mas não poderão competir pelas vagas reservadas.

A Advocacia-Geral da União (AGU) já apresentou suas respostas ao MPF, e a ministra afirmou que a pasta está disposta a esclarecer todas as dúvidas que surgirem. Caso seja necessário fazer ajustes por ordem judicial, o governo seguirá as determinações.

Outro aspecto discutido é a avaliação das soft skills, que envolvem habilidades como trabalho em equipe e proatividade. Especialistas apontam que, apesar dos avanços do CNU na seleção de servidores, a análise dessas competências ainda não está em prática. A ministra Dweck mencionou que a possibilidade de incluir essa avaliação está sendo debatida, mas não fará parte dessa edição do concurso.