
Neste domingo, 6 de outubro, durante a 17ª Cúpula do Brics, que acontece no Rio de Janeiro, João Pedro Stedile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), fez uma apresentação importante. Ele pediu aos países do bloco que considerem a criação de uma grande plataforma tecnológica pública, destinada a beneficiar os povos do Sul Global. O objetivo é reduzir a dependência de empresas privadas que controlam dados e influenciam as narrativas políticas nos países em desenvolvimento.
Stedile destacou a necessidade de se afastar das manipulações das grandes empresas de tecnologia, que têm impacto na ideologia e na política dentro desses países. Ele falou na plenária ao lado de representantes da Rússia e da África do Sul, marcando a primeira vez em que a sociedade civil participa de uma sessão com chefes de Estado dentro do Brics.
A participação de Stedile foi em nome do que foi chamado de Conselho Civil do Brics, que também é conhecido no Brasil como Conselho Popular. Este conselho é composto por sete grupos temáticos que discutem áreas como saúde, educação, ecologia, cultura, finanças, soberania digital e direitos institucionais. Mais de 120 organizações colaboraram na elaboração de propostas que foram formalmente apresentadas aos líderes presentes na cúpula.
Crise Mundial e Soberania Econômica
Stedile e o Conselho Popular acreditam que o mundo enfrenta uma crise severa de governança assegurada por potências ocidentais, o que, segundo eles, ameaça as democracias e a soberania dos povos. Ele enfatizou a importância de estabelecer novos mecanismos de cooperação internacional para melhorar a situação global.
Um dos focos das discussões foi a urgência em mudar a dependência do dólar. O Conselho manifestou apoio à criação de sistemas de pagamento próprios entre os países do Brics e a desdolarização das economias na região. Além disso, discursos que defendem a tributação de grandes fortunas e o controle de capital especulativo em paraísos fiscais foram também abordados. Stedile mencionou que, embora o número de milionários esteja diminuindo, a concentração de riqueza continua a aumentar, destacando a necessidade de que os recursos sejam direcionados para combater a pobreza, a fome e as desigualdades sociais.
Financiamento de Projetos Sociais e Voz da Sociedade Civil
Entre as propostas apresentadas, o Conselho sugeriu que o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), atualmente presidido por Dilma Rousseff, adote mecanismos que possam financiar diretamente projetos sociais apresentados por organizações populares dos países do Brics.
Stedile também pediu por uma maior continuidade da participação da sociedade civil nas próximas cúpulas do Brics. Ele mencionou que o conselho está organizando várias atividades para o segundo semestre, incluindo uma reunião de jovens na África do Sul, uma conferência em Salvador, na Bahia, e um novo encontro do conselho em Moscou, na Rússia.
Ao final de sua fala, Stedile expressou apoio à inclusão de novos países no Brics e defendeu a causa do povo palestino, enfatizando a urgência de ações para proteger essa população, além de condenar as guerras, em especial as que afetam o Irã.
A participação da sociedade civil na cúpula foi considerada um marco, revelando a importância de ampliar a cooperação e a comunicação entre os povos do Sul Global, destacando que a tarefa de melhorar a situação planetária não deve ser exclusiva dos governos.