
Não é moleza para um engenheiro automotivo criar um novo carro para o mercado europeu. A situação lá é de contar com as regulamentações mais rígidas em termos de emissões, ruído e segurança. Esses padrões super altos acabam aumentando os preços e consumindo uma boa parte do tempo de desenvolvimento.
O John Elkann, presidente da Stellantis, revelou que em uma das maiores montadoras do mundo, um engenheiro pode gastar mais de 25% do seu tempo apenas cuidando da conformidade com essas regras rígidas. É como se, em vez de estar inovando, o cara estivesse preso em uma rotina sem fim — e isso, no fundo, não agrega tanto valor para o consumidor.
E a situação está prestes a ficar ainda mais complicada. Elkann, que também é chefe da Ferrari, apontou que até o final da década, os carros vendidos na Europa terão que se adequar a mais de 120 novas regulamentações. O desafio maior vai ser diminuir as emissões: a média terá que cair de 93,6 g/km para apenas 49,5 g/km até 2034. E, a partir de 2035, os novos carros vendidos não poderão emitir poluentes, o que, basicamente, significa o fim dos motores a combustão na Europa.
Muita gente já lamenta a perda dos carros esportivos que tanto amamos por conta dessas regras, mas o impacto não é só nos esportivos, não. Segundo Elkann, até carros menores estão sendo deixados de lado, já que os preços estão subindo e as montadoras não conseguem viabilizá-los. Modelos como o VW Up!, Skoda Citigo e SEAT Mii foram descontinuados, e isso fica evidente quando olhamos para os números: em 2019, mais de um milhão de veículos abaixo de 15.000 euros (cerca de R$ 95 mil) foram vendidos na Europa; hoje esse número caiu para só 100 mil.
A solução que Elkann sugere é que a União Europeia se inspire nos kei cars do Japão e crie um equivalente por lá. Ele critica a falta de modelos pequenos e acessíveis, já que no Japão esses carros costumam representar 40% do mercado.
Recentemente, o ex-CEO da Renault, Luca de Meo, levantou uma questão pertinente: "É um absurdo ambiental dirigir um carro elétrico que pesa 2,5 toneladas todo dia". Ele defende que, para uma eletrificação realmente eficaz, precisamos de veículos mais leves e práticos.
Mesmo com a onda dos crossovers, a procura por modelos menores e mais leves continua forte na Europa. A Dacia, marca mais acessível da Renault, vem se dando muito bem com produtos práticos e sem firulas, atingindo uma participação de mercado de 5,1% até abril, especialmente com o sucesso do Sandero. E mesmo quando a Dacia vende SUVs, como o Duster, o modelo mais pesado do Bigster não chega a pesar mais de 1.400 kg.
Toda essa burocracia em excesso está dificultando a acessibilidade e pode ser um grande erro na jornada da Europa rumo à eletrificação. Carros novos caros podem fazer com que as pessoas prefiram manter seus antigos e mais poluentes. Se as regulamentações sobre modelos menores fossem afrouxadas, assim como no Japão, as montadoras poderiam ter mais liberdade para criar opções mais baratas e eficientes. Mas, considerando a tendência da UE de endurecer as regras, isso parece algo distante.