
Em 2025, as startups brasileiras enfrentam um cenário desafiador devido à incerteza econômica e ao aumento dos custos de crédito. Fernando Seabra, investidor-anjo e CEO da Seabra Academy, destaca a necessidade de focar na resolução de problemas reais e na geração de receitas antes de tentar obter investimentos externos.
Em uma entrevista recente, Seabra comentou sobre as dificuldades que as startups têm enfrentado, especialmente em um ambiente marcado pela escassez de capital e pela necessidade de lucro. Ele observa que a alta taxa Selic e as preocupações fiscais têm feito com que os investidores fiquem mais cautelosos e prefiram opções mais seguras. Com a Selic a 15% ao ano, há menos disposição para assumir os riscos típicos das startups.
Ele também ressaltou que muitos empreendedores ainda associam o sucesso diretamente à captação de investimentos, mas, na realidade, a validação do negócio deve vir do pagamento dos clientes, e não apenas da confiança de investidores em ideias que ainda não foram comprovadas.
Seabra prevê que os próximos 18 meses serão desafiadores, com uma menor liquidez global e uma tendência de fuga de capitais dos mercados emergentes. No entanto, ele acredita que aqueles que conseguirem resolver problemas reais ainda terão espaço no mercado.
O perfil dos investidores-anjo também mudou. Atualmente, eles buscam negócios que ofereçam margem de lucro, escalabilidade e receitas recorrentes, principalmente nos formatos B2B (business to business) ou B2B2C (business to business to consumer). Seabra alerta que os empreendedores devem entender que vendas únicas não sustentam um negócio a longo prazo e que a recorrência deve ser o foco principal.
A validação dos modelos de negócios é mais exigente agora. Apresentações apenas em PowerPoint não são mais suficientes, e os empreendedores precisam aprender a crescer com o dinheiro que recebem dos clientes, um conceito conhecido como bootstrapping.
Fernando Gregório, CEO da startup Vibes, que promove o turismo local e nacional, também deu seu testemunho. Ele explicou que os empreendedores precisam entender se estão prontos para receber investimentos. Muitas vezes, a falta de equilíbrio entre lucro e crescimento pode levar uma startup a regredir.
A Vibes, que listou mais de 200 estabelecimentos em seu catálogo, firmou recentemente um contrato com o Sebrae para desenvolver pacotes turísticos e experiências locais. A empresa já está presente em todo o país com seu aplicativo, mas mantém seus projetos pilotos e sede no Espírito Santo, um movimento estratégico para validar suas inovações em um mercado menor antes de expandir nacionalmente.
Em termos de futuro, Seabra vê oportunidades nas áreas de inteligência artificial e cibersegurança. Ele investe em 14 startups de IA e acredita que essa tecnologia terá um papel essencial em setores como saúde e educação. Segundo ele, a inteligência artificial deverá se tornar uma parte integral das interações econômicas e sociais, embora o setor enfrente o desafio de passar do superficial para tecnologias realmente proprietárias.
A cibersegurança também é uma área de grande importância, especialmente com o aumento dos crimes digitais. Seabra mencionou um recente ataque à C&M Software como um exemplo das ameaças que as empresas enfrentam. Ele acredita que a demanda por soluções de segurança digital deve crescer para mitigar esses novos riscos.