
A BYD, fabricante chinesa, anunciou que começará a montar carros nos sistemas SKD e CKD em sua nova fábrica em Camaçari, Bahia. Essa decisão gerou um debate entre as montadoras já estabelecidas no Brasil e a companhia chinesa, especialmente sobre a criação de empregos e a competitividade na indústria automotiva nacional.
Os sistemas SKD (Semi Knocked Down) e CKD (Completely Knocked Down) envolvem a montagem de veículos que chegam ao Brasil parcialmente prontos. No caso do SKD, os carros vêm da China com montagem básica, pintura e acabamentos, onde as montadoras locais apenas finalizam o processo. Essa abordagem resulta em menos oportunidades de emprego, pois requer menos mão de obra comparado a um processo de montagem completo. Com o SKD, o uso de peças nacionais é bastante limitado.
No sistema CKD, os veículos chegam em partes separadas que requerem uma linha de montagem mais sofisticada, incluindo motor, chassi e carroceria. Nesse modelo, é possível incluir algumas peças produzidas localmente, como componentes de estamparia.
Além destes, existe o sistema CBUs (Completely Built Units), que envolve veículos totalmente montados que são importados. Este sistema é utilizado por montadoras que não possuem fábricas no Brasil e, portanto, não realizam nenhum processo de produção local.
As montadoras já existentes no Brasil produzem veículos que utilizam em grande parte a cadeia local de fornecedores. Esse processo de montagem pode garantir que entre 65% e 90% dos veículos sejam feitos com peças nacionais, contribuindo assim para a geração de empregos e fortalecimento do setor automotivo nacional.
O mercado de autopeças no Brasil, por exemplo, movimentou R$ 260 bilhões no ano passado e emprega mais de 400 mil pessoas. Desde a década de 1950, quando a indústria automotiva começou no Brasil, as montadoras foram gradualmente aumentando o uso de peças fabricadas localmente, à medida que a cadeia de fornecedores se desenvolvia.
No início do ano, a BYD solicitou ao governo a redução de impostos sobre os kits SKD e CKD que utiliza em sua produção na Bahia, o que intensificou a discussão com as montadoras já estabelecidas. A empresa pediu que a tarifa sobre carros elétricos caia de 18% para 5% e a dos carros híbridos de 20% para 10%. Esta proposta será analisada pela Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex).
O presidente da Anfavea, Igor Calvet, lembrou que as montadoras já presentes no país anunciaram investimentos de R$ 180 bilhões em novas tecnologias sem solicitar reduções de tarifas, enfatizando que é possível operar de forma competitiva nesse cenário. A chegada da BYD e a concorrência com as montadoras brasileiras têm potencial para alterar o mercado automotivo no Brasil, trazendo novos desafios e oportunidades.