
No dia 4 de fevereiro de 1983, um homem de aparência inofensiva e cabelo grisalho, identificado como Klaus Altmann, estava no aeroporto de La Paz, na Bolívia, acompanhado pelo recém-nomeado vice-ministro do Interior, Gustavo Sánchez. Altmann, na verdade, era Klaus Barbie, conhecido como o “carcereiro de Lyon”, um ex-membro da Gestapo, responsável por atrocidades durante a Segunda Guerra Mundial. A Bolívia havia detido Altmann por evadir impostos, mas sua situação era muito mais séria, pois ele enfrentava a deportação por crimes contra a humanidade, uma possibilidade que nunca imaginou ser real após anos de impunidade.
Em dezembro de 1982, Barbie estava em um evento com dois centenas de convidados, entre eles Pablo Escobar, o chefe do cartel de Medellín. O anfitrião, Roberto Suárez, era o “rei da cocaína” na Bolívia. A festa celebrava o retorno do filho de Suárez, que havia sido absolvido de acusações de tráfico de drogas nos Estados Unidos. Naquela época, Barbie era conselheiro de segurança de Suárez e controlava os serviços secretos bolivianos, empregando métodos violentos tanto contra opositores políticos quanto contra inimigos do cartel.
Durante a ocupação nazista na França, Barbie chefiou a Gestapo em Lyon, onde milhares de pessoas foram torturadas e assassinadas sob suas ordens. Após a guerra, ele fugiu para a Bolívia, onde conseguiu reestruturar sua vida e se infiltrar nas redes de poder locais, criando uma nova identidade como Klaus Altmann e estabelecendo vínculos com os narcotraficantes bolivianos.
Pesquisas recentes revelam que autoridades dos Estados Unidos sabiam da presença de Barbie na Bolívia enquanto este ajudava a formar os primeiros cartéis de cocaína e atuava na criação de um narcoestado. Desde o fim da guerra, Barbie havia logrado escapar da justiça ao colaborar com o Corpo de Contrainteligência dos EUA, que buscava aliados na luta contra o comunismo.
Barbie chegou à Bolívia como um mecânico, mas sua verdadeira trajetória o levou a assumir posições de poder. Educado em um internato, ele construiu uma carreira no serviço secreto nazista, culminando na chefia da Gestapo. Apesar de seu passado violento, ao chegar à Bolívia, muitas pessoas desconheciam suas origens.
Suárez, outro protagonista dessa história, tinha interesse em transformar seu país em um narcoestado. Ele formou uma aliança com Barbie, que organizou um golpe militar em 1980, que estabeleceu um regime militar brutal, garantindo o controle sobre a produção de cocaína.
Suárez e Barbie firmaram uma parceria sólida, embora as origens de Barbie fossem desconhecidas por muitos na Bolívia. Mesmo com uma história familiar complicada, Suárez utilizava seu status social para se apresentar como um benefactor e conquistador das massas pobres, enquanto Barbie realizava o trabalho sujo, usando métodos violentos para eliminar opositores e concorrentes.
Essa aliança, descrita como “narconazi”, obteve reconhecimento ao expandir seus negócios, mas atraía a atenção das autoridades. Durante a década de 1980, a crescente violência do tráfico de drogas, especialmente pelo surgimento do crack, causou uma mudança na percepção dos EUA sobre os narcoestados.
Com o colapso da coalizão entre militares e narcotraficantes em 1982, a Bolívia ficou em uma situação crítica. Embora Suárez tenha sido preso e condenado a 15 anos, faleceu de infarto na sua mansão. Por outro lado, Barbie foi condenado a prisão perpétua em 1987 por crimes contra a humanidade e morreu de leucemia em 1991, sem demonstrar qualquer arrependimento por suas ações passadas.