Avanço da direita entre jovens é influenciado por precarização e internet

Um estudo recente realizado pela AtlasIntel, em parceria com a Bloomberg, mostra que a direita política no Brasil está ligeiramente à frente da esquerda entre a população geral, com 42% dos entrevistados se identificando como conservadores, em comparação com 40% que se consideram de esquerda. Essa diferença é ainda mais pronunciada entre os jovens, onde a adesão à direita pode chegar a 27 pontos percentuais a mais quando comparada a gerações mais velhas.

O levantamento revelou que apenas 25% da geração mais velha, conhecida como baby boomers (nascidos entre 1944 e 1964), se identifica com ideologias de direita ou centro-direita. Esse número sobe para 34% na geração X (nascidos entre 1965 e 1980) e salta para 51% entre os millennials (nascidos entre 1981 e 1996). A geração Z, que inclui os jovens de 16 a 28 anos, apresenta um percentual ainda maior, alcançando 52%.

O cientista social João Feres fornece explicações para essa nova dinâmica. Ele aponta três elementos principais. O primeiro é o distanciamento histórico: as gerações mais velhas viveram a ditadura militar e a transição para a democracia, portanto têm uma perspectiva diferente da política. Já os jovens, que apenas ouviram sobre esses períodos, têm visões mais distantes e, muitas vezes, menos informadas sobre autoritarismo e democracia.

O segundo ponto é o ambiente informacional. Feres destaca que as gerações anteriores consumiram notícias principalmente através da grande imprensa, enquanto os jovens cresceram com a internet e as redes sociais, ambientes que permitem uma maior diversidade de opiniões, incluindo discursos de extrema direita.

Por último, o cientista social menciona a precarização do trabalho. As novas gerações enfrentam condições de trabalho mais difíceis, descritas como “uberização”. Isso gera frustração e insegurança, uma vez que muitos jovens não veem os governos como capazes de resolver seus problemas.

Apesar dessas análises, Feres alerta para a cautela ao interpretar os dados. Ele menciona que muitas vezes as pessoas têm uma compreensão limitada do que significa se identificar como de direita ou esquerda. Além disso, ressalta que pesquisas assim geralmente analisam uma variável de cada vez, sem considerar fatores como renda ou nível educacional, o que pode distorcer a compreensão dos resultados.

Quando questionado sobre a relação do individualismo crescente com as escolhas políticas conservadoras, Feres reconhecer que é um fenômeno complexo de avaliar. Ele afirma que o individualismo presente na doutrina neoliberal exerce uma grande influência na cultura atual. Além disso, as religiões pentecostais, que promovem uma forte conexão entre o indivíduo e Deus, também reforçam valores individualistas, contribuindo para esse cenário.

Esses dados e considerações mostram como os jovens brasileiros estão se posicionando politicamente de forma diferente das gerações anteriores, e como fatores históricos, informacionais e sociais desempenham um papel fundamental nessa mudança.