Plataformas obrigatórias em SP prejudicam ensino, afirma educador

O modelo educacional adotado pelo governo de Tarcísio de Freitas em São Paulo tem gerado polêmica entre educadores. A exigência de uso de plataformas digitais e de material padronizado na rede estadual tem sido criticada por especialistas, que afirmam que falta embasamento pedagógico e pode se tornar um controle sobre os professores. Essa análise foi feita pelo professor Daniel Cara, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

Em uma entrevista, Cara se mostrou preocupado com a escolha de Renato Feder, um empresário do setor de tecnologia, como secretário de Educação. Segundo ele, Feder não tem o conhecimento necessário sobre educação para ocupar esse cargo. O professor afirmou que a padronização do material imposta pelo secretário desvaloriza a formação dos docentes. Ele argumentou que essa abordagem é um sinal de desconfiança nas capacidades dos professores, resultando em uma educação de menor qualidade.

Cara também criticou a qualidade do material didático fornecido, descrevendo-o como “assustadoramente fraco”. Para ele, a construção de uma boa aula não pode ser baseada em um roteiro imposto por terceiros. “É impossível um professor dar uma boa aula se não puder se expressar com suas próprias ideias”, afirmou. Ele ressaltou que essa falta de autonomia dos docentes prejudica a educação em São Paulo, um dos estados mais ricos do país, mas que ainda apresenta deficiências no aprendizado.

Essas críticas têm ganhado força após uma ação jurídica do Ministério Público de São Paulo e da Defensoria Pública que questiona a obrigatoriedade do uso dessas plataformas digitais. Cara elogiou a intervenção dos órgãos, embora tenha lamentado que a questão precise ser resolvida na Justiça. Isso, segundo ele, revela a resistência do governo em dialogar com educadores e pesquisadores.

Além disso, Cara destacou que investigações do grupo Rede Escola Pública e Universidade (Repu), que ele coordena, têm mostrado efeitos negativos do modelo de ensino atual. Ele expressou seu apoio à mobilização dos professores que se opõem à política educacional proposta por Feder e se colocou à disposição para lutar ao lado deles.

As discussões sobre a educação em São Paulo revelam um cenário complexo, em que as decisões políticas impactam diretamente a prática pedagógica e a qualidade do ensino na rede pública.