
Uma pesquisa chamada “O Trabalho e o Brasil”, realizada pelo Vox Populi em parceria com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), centrais sindicais e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), trouxe à tona dados que desafiam o que tem sido amplamente discutido sobre o mundo do trabalho no país.
De acordo com o levantamento, quase 68% dos entrevistados consideram os sindicatos como importantes ou muito importantes. Além disso, 56% dos trabalhadores autônomos que já tiveram carteira assinada expressam o desejo de retornar ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Isso mostra que muitos profissionais valorizam a proteção e os direitos garantidos pela CLT.
Adriana Marcolino, diretora técnica do Dieese, destacou que o resultado da pesquisa surpreendeu até mesmo especialistas na área. Ela mencionou que, frequentemente, a informação sobre a desvalorização do movimento sindical provém de certos segmentos da sociedade e de grandes meios de comunicação, mas a pesquisa indica uma realidade diferente quando ouvimos diretamente os trabalhadores.
Marcolino observou a discrepância entre as narrativas conservadoras, que minimizam a importância dos sindicatos, e o que os trabalhadores realmente pensam. A pesquisa mostrou que muitos gostariam de se envolver mais com os sindicatos, mas enfrentam dificuldades devido à precarização e fragmentação do mercado de trabalho. Essa situação tem gerado contratos temporários, informalidade e práticas que enfraquecem a união entre os trabalhadores.
Outro ponto relevante identificado na pesquisa é que 52,4% dos entrevistados afirmam não conhecer bem a atuação de suas entidades sindicais. Marcolino explicou que isso se deve ao modelo sindical atual, que não abrange todas as categorias de trabalhadores. Muitos grupos e ocupações, especialmente aqueles em situações mais vulneráveis, não têm representação adequada.
Quando questionados sobre suas prioridades, 63,8% dos trabalhadores mencionaram a necessidade de melhores salários, enquanto 36,6% destacaram a busca por bons empregos. A diretora do Dieese reforçou que a maioria dos brasileiros vive com salários baixos e que a defesa dos direitos trabalhistas ainda é uma prioridade. Ao contrário da ideia de que as pessoas queiram apenas empreender, muitos trabalhadores desejam melhores condições e direitos.
A pesquisa também apontou um forte desejo por uma redução na jornada de trabalho. Cerca de 80% dos participantes se mostraram a favor da diminuição da carga horária, especialmente em relação à jornada de trabalho 6×1. Muitos trabalhadores autônomos afirmaram que essa escolha é motivada pela necessidade de conciliar empregos com responsabilidades familiares.
Entre os autônomos, além dos 56% que teriam certeza de voltar à CLT, 30,9% consideraram a possibilidade de retornar. Marcolino enfatizou que o “empreendedorismo” que muitos trabalham não reflete uma escolha livre, mas sim uma questão de sobrevivência diária. Muitas das ocupações citadas, como ambulantes e pedreiros, são vistas como formas de trabalho que não correspondem ao ideal de empreendedorismo que muitos imaginam.
Ela concluiu que a pesquisa oferece uma nova perspectiva sobre a classe trabalhadora, desmistificando a ideia de que os profissionais rejeitam a proteção social ou desejam ser apenas empreendedores. Muitos trabalhadores estão enfrentando dificuldades financeiras a ponto de abrir mão de direitos, como a aposentadoria, em busca de atender às necessidades do dia a dia. Assim, o levantamento apresenta uma visão mais realista do mercado de trabalho e das aspirações dos trabalhadores.

