EUA encerram cota especial e impactam açúcar orgânico do Brasil

O governo dos Estados Unidos anunciou mudanças nas tarifas de importação que podem afetar negativamente a indústria de açúcar orgânico no Brasil. O presidente Donald Trump confirmou o fim de uma cota de importação que permitia a entrada de 210 mil toneladas de açúcar orgânico brasileiro no mercado norte-americano sem tarifas, uma prática que durou mais de 20 anos.

Com essa alteração, o açúcar orgânico do Brasil poderá enfrentar uma carga tributária de até 50%. Isso significa que, com as novas tarifas aplicadas, o custo para exportar esse produto para os EUA poderá chegar a impressionantes 98%. Apenas a tarifa padrão já representa cerca de 357 dólares por tonelada, que corresponde a 48% do valor.

### Importância do Mercado Americano

O mercado dos Estados Unidos é fundamental para o açúcar orgânico brasileiro. Quatro grandes empresas do setor — Native (Grupo Balbo), Jalles Machado, Goiasa e Adecoagro — enviam aproximadamente metade da produção para o país. Em 2024, as exportações estão previstas para alcançar 140 mil toneladas, de um total de 280 mil.

Por outro lado, os EUA consomem cerca de 300 mil toneladas de açúcar orgânico anualmente, mais da metade do total no consumo global, e quase todo esse volume vem de importações. O Brasil responde por 46% destas compras, sendo presença marcante em mais de 100 categorias alimentares nos supermercados americanos. Colômbia, Argentina e Paraguai também são fornecedores, mas o Brasil é o principal.

### Risco de Perdas Semelhantes à Europa

A indústria brasileira teme que as dificuldades enfrentadas nos Estados Unidos sejam semelhantes às que ocorreram na Europa. O Brasil perdeu espaço nesse mercado após a União Europeia firmar acordos comerciais com Colômbia, Peru e Equador, isentando esses países de tarifas de importação. Com uma tarifa de 414 euros por tonelada, a competitividade do açúcar brasileiro na Europa ficou comprometida.

A Colômbia, mesmo sem tarifas, consegue vender na Europa a preços que são 30% mais altos que os do Brasil e ainda assim se mantém competitiva, resultado do crescimento da produção colombiana.

### Falta de Alternativas de Mercado

De acordo com especialistas do setor, como Plinio Nastari, da consultoria Datagro, não há opções viáveis para redirecionar o açúcar orgânico brasileiro a curto prazo. O mercado é específico e exige consumidores dispostos a pagar por produtos orgânicos. Atualmente, a demanda na Ásia é inconsistente, e na África a situação é ainda mais distante.

No Brasil, o consumo de açúcar orgânico é bastante limitado, com apenas 12 mil toneladas por ano, o que representa apenas 0,2% do total consumido no país. A indústria alimentícia local também não demonstra interesse significativo por esse produto.

### Preços e Risco de Paralisação

Com o aumento da demanda global, os preços do açúcar orgânico subiram. O “prêmio” sobre o açúcar convencional, que historicamente variava entre 30% e 35%, chegou a 50% nos últimos meses.

Entretanto, produtores do setor alertam que não conseguem absorver perdas impostas pelo mercado americano. Leontino Balbo Jr., da Native, destacou que, sem os Estados Unidos como mercado para 40 mil toneladas anualmente, não é possível manter a estrutura de custos e continuar a atividade.

Ainda assim, a oferta parece garantida a curto prazo, devido aos baixos estoques e à entressafra em países concorrentes. No entanto, se as tarifas se mantiverem, a produção brasileira de açúcar orgânico pode ser severamente afetada e até interrompida em um prazo de seis meses.