
Na segunda-feira, a agência de notícias Agence France-Presse (AFP) emitiu um alerta sério sobre a situação de seus jornalistas que continuam em Gaza. Esta é a primeira vez, desde sua fundação em 1944, que a AFP reconhece publicamente o risco de seus profissionais enfrentarem a fome devido ao agravamento da situação humanitária na região, em meio à intensificação das operações militares de Israel.
A Sociedade de Jornalistas da AFP (SDJ) expressou em comunicado que nunca antes havia enfrentado uma situação em que jornalistas pudessem morrer de inanição. Eles relataram que os pedidos de ajuda dos freelancers que cobrem a realidade em Gaza se tornaram diários, sem que a agência consiga garantir a segurança e a sobrevivência de seus colaboradores.
A SDJ pediu a evacuação imediata dos repórteres locais. Desde o início de 2024, a AFP conta exclusivamente com jornalistas freelancers para cobrir a situação em Gaza, já que a equipe internacional foi retirada e o acesso a jornalistas de fora se tornou proibido.
Desde 7 de outubro, Israel não permite a entrada de repórteres internacionais na Faixa de Gaza, tornando o trabalho dos freelancers palestinos ainda mais crucial para informar o mundo sobre a situação local. A AFP apelou para que as autoridades israelenses permitam a evacuação dos freelancers e suas famílias, já que suas vidas estão em risco.
Os relatos dos jornalistas mostram o desespero da situação. Bashar Taleb, fotógrafo freelancer que colabora com a AFP desde 2010, compartilhou em suas redes sociais que está em uma situação crítica, sem forças para continuar trabalhando e relatando, além de enfrentar escassez de alimentos. Ele vive nas ruínas de sua casa com seus irmãos e mencionou que um deles já está sofrendo com a fome.
A AFP também destacou que não consegue mais fornecer veículos ou combustível para os jornalistas se deslocarem, pois a mobilidade se tornou extremamente perigosa, com o risco de serem alvos de bombardeios. Uma jornalista da agência, identificada como Ahlam, relatou que sente medo a cada saída para cobrir um evento e confirmou que o maior desafio atualmente é a falta de comida e água. Ela enfatizou a importância de seu trabalho em dar voz às pessoas, já que resistir à situação se tornou uma necessidade.
Em âmbito internacional, o governo francês se manifestou sobre a situação. O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, pediu que Israel permita a entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza e destacou o risco iminente de fome após 21 meses de conflitos. Ele fez um apelo em uma entrevista à rádio, reiterando a importância de uma imprensa livre para relatar o que está acontecendo na região e anunciou que o governo francês está buscando formas de evacuar alguns colaboradores de jornalistas nas próximas semanas.
Barrot também pediu um cessar-fogo imediato por parte de Israel, afirmando que não há justificativas para as operações militares em Gaza, que contribuem para uma situação já crítica e provocam novos deslocamentos forçados da população.