
O aumento dos preços dos chocolates no Dia Mundial do Chocolate, comemorado nesta segunda-feira (7), destaca uma crise significativa no mercado de cacau. Desde 2022, o valor da tonelada dessa commodity saltou de US$ 2.400 para mais de US$ 10.000, refletindo um dos maiores aumentos de preços dos últimos tempos.
Esse rali nos preços é resultado de uma combinação de fatores. Os principais países produtores de cacau, como Costa do Marfim e Gana, estão enfrentando problemas climáticos, sanitários e econômicos que têm causado uma escassez global do produto. Essa situação provocou o interesse do mercado financeiro pela commodity.
Em julho de 2022, a tonelada de cacau custava US$ 2.400. Em julho de 2023, o preço subiu para US$ 2.600. As projeções para os anos seguintes indicam um aumento dramático: espera-se que alcance US$ 7.000 em julho de 2024 e ultrapasse os US$ 10.000 em julho de 2025.
Segundo Guto Gioielli, analista do setor, o mercado de cacau requer uma colaboração entre governos, produtores, a indústria e os consumidores para buscar soluções sustentáveis que estabilizem tanto a produção quanto os preços.
Desafios na África Ocidental
Cerca de 75% do cacau mundial vem da Costa do Marfim e de Gana, ambos enfrentando severas dificuldades. Os principais problemas incluem:
- Secas intensas, agravadas pelo fenômeno El Niño.
- A proliferação de um vírus chamado “broto inchado”, que afeta as plantações.
- O abandono de lavouras por produtores que não conseguem lidar com as doenças das plantas.
- A falta de investimentos em novas plantações.
Esse cenário tem dificultado a recuperação da produção. As novas árvores de cacau demoram anos para começar a dar frutos, enquanto a demanda continua alta.
Impactos no Brasil
No Brasil, a produção de cacau também caiu. Para atender ao mercado interno, as importações aumentaram consideravelmente. No primeiro trimestre de 2025, as importações cresceram 30% em relação ao mesmo período do ano anterior. Mesmo com contratos fixos de fornecimento, os preços subiram, levando a indústria a considerar mudanças nas fórmulas e nos tamanhos dos produtos.
Mudanças no chocolate
A crise do cacau já impacta o varejo. Na Páscoa de 2025, os preços dos chocolates aumentaram, em média, 14%. Além disso, muitas marcas decidiram diminuir o tamanho das embalagens para evitar o repasse total dos custos aos consumidores.
Poucos percebem que também houve alterações na composição do chocolate para reduzir gastos de produção. Muitas receitas agora incluem:
- Mais açúcar e gordura vegetal.
- Menos manteiga de cacau.
- Aditivos, como o poliglicerol polirricinoleato (PGPR), que ajuda a reduzir a viscosidade, substituindo parte da manteiga de cacau.
Como resultado, o chocolate atualmente possui menos cacau e mais ingredientes industrializados.
Perspectivas futuras
Embora os preços possam recuar em alguns momentos, analistas de instituições financeiras importantes, como o JP Morgan, projetam que o mercado de cacau encontrará um novo patamar, oscilando entre US$ 6.000 e US$ 8.000 por tonelada nos próximos anos. Isso indica que, para os consumidores, o chocolate deve continuar caro e menos puro por um longo período.