
Nos últimos dias de gravação da segunda temporada de “The Sandman”, série da Netflix baseada na obra do autor Neil Gaiman, surgiram sérias alegações contra o escritor. Durante um podcast da Tortoise Media, Gaiman foi acusado de assédio sexual e abuso por cinco mulheres. O podcast, intitulado “Master” — nome que Gaiman supostamente pediu para que as mulheres o chamassem — trouxe à tona detalhes sobre múltiplas acusações, algumas das quais o autor alega terem ocorrido dentro de relações consensuais de BDSM. Além disso, em janeiro, outras quatro mulheres fizeram denúncias similares em uma matéria de revista, descrevendo um padrão de manipulação e coercitividade.
As mulheres que acusam Gaiman relatam experiências de assédio e abuso, alegando que acordos de confidencialidade foram utilizados para silenciá-las. O autor negou veementemente todas as acusações. Esse contexto levanta uma discussão importante sobre a separação entre a obra e o artista. O impacto da conduta de criadores poderosos é um tópico recorrente, especialmente quando suas ações prejudiciais têm pouca ou nenhuma consequência legal ou financeira.
David S. Goyer, co-criador de “The Sandman”, comentou que a Netflix estava preocupada em não provocar danos financeiros para a equipe de produção, caso decidisse interromper a série. Ele destacou que artistas e profissionais envolvidos dependem dessa produção para sua remuneração. No entanto, essa situação também pode ser angustiante para as vítimas, que se sentem retraumatizadas ao ver a obra sendo celebrada, mesmo após as denúncias.
As pessoas costumam avaliar seu envolvimento com artistas envolvidos em escândalos de acordo com suas próprias crenças e condições. Muitos ainda consomem o trabalho de artistas como Michael Jackson e Kanye West, apesar das controvérsias em suas carreiras. O debate se intensifica quando artistas já falecidos podem ser vistos de maneira diferente, pois não se beneficiam mais financeiramente de seu trabalho.
Um exemplo atual é a nova série de “Harry Potter” da HBO, que enfrentou críticas por causa das opiniões da autora J.K. Rowling sobre questões de gênero. A presença de novos atores no projeto é vista por muitos como um apoio implícito aos pontos de vista da autora, que acumulou uma fortuna significativa desde que suas opiniões geraram polêmica.
Essa questão se torna ainda mais relevante à medida que a indústria do entretenimento se retroalimenta com reboots e adaptações de obras anteriores. Embora o reboot de “Buffy, a Caça-Vampiros” esteja seguindo em frente sem Joss Whedon, envolvido em acusações de má conduta, a conexão com os personagens criados por ele se mantém.
Atualmente, não está claro se Gaiman receberá royalties por “The Sandman”, mas a realidade é que plataformas de streaming e produtores interpretam a audiência como um indicativo do tipo de conteúdo que o público deseja ver. Assim, espectadores têm o poder de “votar” com seu tempo e atenção, fazendo escolhas que podem impactar a produção cultural no futuro.
Por essa lógica, a decisão de não consumir obras ligadas a pessoas tidas como prejudiciais se torna uma responsabilidade para muitos. Caso a audiência decida não apoiar “The Sandman”, isso pode enviar uma mensagem poderosa sobre a importância das alegações contra Gaiman. Embora a situação esteja complexa, as escolhas dos espectadores permanecem claras e significativas.