Paulistas celebram um conflito que resultou em derrota

No dia 9 de julho, o estado de São Paulo comemora a Revolução Constitucionalista de 1932, um evento marcante da história do Brasil. O movimento ocorreu em resposta à ausência de uma nova constituição e buscava convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, um ideal considerado crucial nas lutas democráticas do país. Historiadores destacam que esse evento trouxe à tona questões que nunca haviam sido discutidas em outras rebeliões brasileiras.

Porém, há também um debate sobre a narrativa prevalente a respeito do conflito. Alguns argumentam que o movimento estava apenas interessado em restaurar os privilégios de São Paulo na estrutura de poder que existia antes de 1930. Essa visão, segundo alguns especialistas, reflete uma perspectiva do governo provisório da época.

O 9 de julho chegou a ser um feriado em São Paulo, mas foi retirado quando a ditadura militar tomou o poder em 1964, uma vez que a celebração estava associada à liberdade, à constituição e ao respeito às leis, valores que não estavam em sintonia com o regime militar. O feriado foi restabelecido em 1997.

Apesar de ser um feriado oficial, o significado do 9 de julho é contestado por alguns. Em um contexto de intensos debates sobre a história do Brasil, como os que surgiram em torno do golpe de 1964 e os eventos de 8 de janeiro de 2023, a celebração de uma guerra civil que dividiu o país é vista como anacrônica e até perigosa por alguns críticos.

Um especialista destaca que essa visão do 9 de julho é ultrapassada. Ele descreve a forma como a história do movimento foi construída ao longo dos anos como uma “mitologia política”, perdendo sua relevância com o tempo e as mudanças sociais. Atualmente, segundo ele, a economia brasileira enfrenta desafios como a desindustrialização e a falta de políticas públicas em áreas essenciais como educação, ciência, cultura e saúde. Esses fatores contrastam com a imagem de bem-estar econômico que se associava a São Paulo nas primeiras décadas do século 20.

Além disso, a narrativa sobre a Revolução Constitucionalista foi moldada nas décadas seguintes ao conflito, criando uma versão heroica e romântica do evento, focada em heróis e memoriais. Essa versão é frequentemente desafiada por historiadores de fora de São Paulo, que a reavaliam sob diferentes perspectivas, classificando-a não como uma revolução, mas como uma revolta ou um conflito regional.