
A comemoração do Dia Mundial do Chocolate, celebrado em 7 de outubro, revelou uma preocupante alta nos preços dos chocolates, que reflete uma crise no setor de cacau. Desde 2022, o valor da tonelada da matéria-prima aumentou de US$ 2.400 para mais de US$ 10.000, em um dos maiores saltos de preços das commodities registrado recentemente.
Esse aumento significativo é resultado de uma combinação de fatores que afetaram os principais países produtores. Problemas climáticos, como a seca causada pelo fenômeno El Niño, além de questões sanitárias, como a disseminação do vírus do “broto inchado” que compromete as plantações, contribuíram para a escassez global do cacau. Somado a isso, a falta de investimentos em novas plantações tem levado os produtores a abandonar lavouras doentes, resultando em um desequilíbrio entre a oferta e a demanda.
A evolução dos preços do cacau nos últimos anos é alarmante. Em julho de 2022, a tonelada custava US$ 2.400; em julho de 2023, o preço saltou para US$ 2.600; e, para julho de 2024, a previsão é que chegue a US$ 7.000. Já em 2025, o valor deve ultrapassar a marca de US$ 10.000.
A produção de cacau no Brasil também enfrentou desafios, resultando em um aumento nas importações para suprir a demanda. No primeiro trimestre de 2025, as importações brasileiras aumentaram em 30% em comparação com o ano anterior. Mesmo com acordos de longo prazo, os custos seguiram em alta, forçando a indústria a repensar suas fórmulas e tamanhos de produtos.
Esse cenário impactou diretamente o varejo. Durante a Páscoa de 2025, o preço do chocolate aumentou, em média, 14%. Muitas marcas optaram por reduzir o tamanho das embalagens para evitar repassar integralmente os custos ao consumidor. Além disso, as receitas dos chocolates passaram a ser alteradas, com maior adição de açúcar e gordura vegetal, e uma redução na quantidade de manteiga de cacau. Para baratear a produção, alguns produtos passaram a incluir aditivos que diminuem a viscosidade e substituem parte da manteiga de cacau, resultando em chocolates com menos cacau e mais ingredientes industrializados.
Especialistas do mercado financeiro, como analistas do JP Morgan, indicam que, mesmo que os preços apresentem uma queda momentânea, o cenário para o futuro do mercado de cacau deve se estabilizar em um patamar elevado, entre US$ 6.000 e US$ 8.000 por tonelada. Isso sugere que o chocolate poderá continuar a ser uma iguaria cara e menos pura nos próximos anos.