
Movimentos populares em Honduras organizaram um protesto nesta quinta-feira (4) em frente à embaixada dos Estados Unidos, localizada na capital, Tegucigalpa. O objetivo do ato é denunciar a interferência dos EUA nas eleições gerais do país.
Um comunicado assinado por várias organizações, incluindo o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH), criticou a influência que os Estados Unidos têm sobre a democracia hondurenha. As instituições afirmam que essa intervenção tem favorecido interesses econômicos e criminosos, e citam a propaganda do ex-presidente Donald Trump em favor de Nasry “Tito” Asfura, candidato do Partido Nacional, como uma violação da vontade popular.
A convocação para o protesto surgiu após o indulto que Donald Trump concedeu a Juan Orlando Hernández, ex-presidente de Honduras, que foi condenado a 45 anos de prisão nos Estados Unidos por narcotráfico.
Em meio a este contexto, a transparência do processo eleitoral também é questionada. O sistema de divulgação preliminar de votos do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) teve várias falhas, comprometendo sua eficiência e gerando desconfiança. As organizações que convocaram o protesto ressaltam que a disputa política ainda se mantém entre o Partido Nacional e o Partido Liberal, partidos que têm sido historicamente responsáveis pela pobreza no país.
Desde o golpe de Estado de 2009, Honduras enfrenta um período de repressão e autoritarismo. Nesse cenário, a ativista indígena Berta Cáceres foi assassinada em 2016, durante a presidência de Juan Orlando Hernández.
Camilo Bermúdez, diretor de litígios do COPINH, expressou sua preocupação com a possibilidade de o tradicional bipartidarismo, representado principalmente pelo Partido Nacional e o Partido Liberal, voltar ao poder. Ele destacou que as eleições não ocorreram em um ambiente de plena liberdade, devido à interferência dos Estados Unidos, que teve seu ápice durante as eleições. Bermúdez também observou que as ameaças de represálias econômicas por parte de Trump, caso Asfura não vencesse, contribuíram para criar uma atmosfera onde a população não se sentiu livre para votar.
Honduras tem uma grande dependência econômica dos EUA. Cerca de 1,8 milhão de hondurenhos vivem nos Estados Unidos e enviam remessas que representam mais de um quarto do PIB do país.
Semanas antes das eleições, o Partido Liberdade e Refundação (Libre) e sua candidata, Rixi Moncada, denunciaram irregularidades graves, afirmando que não reconheceriam os resultados preliminares do CNE. Assim que os primeiros resultados foram divulgados, Moncada disse que houve fraude, pois o CNE eliminou a validação das cédulas com leitores biométricos, possibilitando a apresentação de votos irregulares.
Bermúdez ressaltou a importância de revisar os registros de votos devido a essas alegações de irregularidades. Ele acredita que a situação atual deve ser um chamado à reflexão para os movimentos populares hondurenhos, considerando a ascensão de candidatos de direita e a falta de cumprimento das promessas governamentais.
Além disso, Bermúdez reconheceu que o COPINH precisa fazer uma autocrítica sobre sua atuação. Ele afirmou que a organização deve intensificar sua presença nas ruas e unificar o movimento em defesa da justiça social e ambiental.
Por fim, ele enfatizou que, independentemente de quem assuma o governo, é essencial articular o movimento popular em busca de justiça, defendendo a construção de uma democracia participativa e do poder popular, acima das questões eleitorais imediatas.

