Operação no RJ: foco em eleição, não em segurança pública

A recente operação policial nos complexos da Penha e do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro, resultou em 121 mortes e gerou reações intensas no cenário político. O governador Cláudio Castro, do PL, foi fotografado sorrindo ao lado de aliados após a operação, o que levanta debates sobre o uso da violência como estratégia política.

A ação policial é vista como um sucesso simbólico para Castro, especialmente entre setores mais conservadores da sociedade. Embora não tenha conseguido prender Edgar Alves de Andrade, o Doca, apontado como líder do Comando Vermelho, e os resultados em termos de apreensão de drogas e armas tenham sido baixos, a mensagem transmitida foi clara: o Estado mostrou sua força.

Esse tipo de estratégia não é novo. Governantes, especialmente em momentos de crise política, frequentemente recorrem à violência institucional para reafirmar seu poder. Um exemplo é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que também lançou ações policiais rigorosas em meio a conflitos internos. Essa abordagem transforma a política em um espetáculo, focado mais na exibição de poder do que em soluções efetivas.

Com a proximidade das eleições em 2026 e mirando uma vaga no Senado, Castro tenta recuperar sua visibilidade política. Atualmente, ele aparece em desvantagem em relação a candidatos mais consolidados, como o senador Flávio Bolsonaro e a deputada federal Benedita da Silva. A operação policial, portanto, serve para reestruturar sua imagem e reaproximá-lo do eleitorado conservador.

Entretanto, essa estratégia carrega riscos. A operação revela a falta de políticas públicas adequadas para a segurança e apresenta um modelo repressivo que tem sido reproduzido no Rio há décadas. A abordagem violenta não traz estabilidade; ao contrário, perpetua um ciclo de desconfiança e distancia o Estado da população das periferias.

A um ano das eleições, a atitude de Castro em levar forças policiais às ruas é uma tentativa de garantir seu espaço no debate político, reabrindo antigas discussões sobre segurança e direitos humanos. Desde o início, sua intenção parece ter sido provocar uma reação, levando a classe política a escolhe entre apoiar ou criticar sua atuação.

O contexto político atual inspira a repetição de discursos extremistas, como o de Flávio Bolsonaro, que recentemente sugeriu ações militares para combater o narcotráfico no Brasil. Castro se posiciona como um defensor dessa estética de confronto, apresentando as mortes na operação como um símbolo de autoridade.

Assim, a operação nos complexos do Alemão e da Penha vai além de uma simples ação de segurança; é um movimento político estratégico de um governador que busca sair do isolamento em que se encontra. No fundo, o foco está muito mais nas eleições do que em garantir a segurança pública efetiva, refletindo uma realidade que muitos preferem ignorar.