Desertos de notícias indicam queda no mercado – 10/07/2025

O Atlas da Notícia, que realiza um importante estudo sobre o jornalismo local no Brasil, apresentou novas informações na sua última edição, revelando uma diminuição no número de municípios sem veículos de informação, conhecidos como desertos de notícias.

Em 2023, a porcentagem de cidades sem nenhum tipo de comunicação caiu de aproximadamente 49% para 45%. Apesar dessa queda, a direção do Projor, Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, coloca em perspectiva que essa mudança não deve ser vista como motivo de comemoração. O presidente da instituição, Sérgio Lüdtke, explica que esse recuo se deve ao crescimento do jornalismo online, que, embora acessível, traz desafios significativos e pode ser considerado vulnerável. Ele aponta que muitos jornalistas estão motivados a oferecer notícias em regiões carentes de informação, mas que isso também reflete a instabilidade presente nesse setor.

A maioria dos veículos online atuais é composta por iniciativas individuais, como blogs e perfis em redes sociais, que se dedicam à disseminação de conteúdos jornalísticos. Lüdtke observa que, embora isso pareça positivo, a realidade é que a situação contém fragilidades. Ele ressalta que canais de rádio e televisão mantêm números similares aos de anos anteriores, enquanto os veículos impressos estão cada vez mais reduzidos. A dinâmica do meio digital é marcada por constantes aberturas e fechamentos, o que gera dúvidas sobre a permanência dessas iniciativas ao longo do tempo.

O estudo identificou 2.504 desertos de notícias, abrigando cerca de 21 milhões de pessoas. Além disso, foram mapeados 3.066 municípios que não são desertos, com uma população total superior a 180 milhões. No entanto, entre esses, 1.808 cidades possuem apenas um ou dois veículos de comunicação, criando a categoria chamada de “quase desertos”. Esta última categoria teve um aumento na sua participação, de 29,4% em 2023 para 32,5% no levantamento atual.

Um ponto que despertou atenção no estudo atual é o futuro dos arquivos digitais de veículos que encerram suas atividades. Muitas vezes, não é possível verificar exatamente quando os veículos fecham, o que pode afetar a preservação de registros históricos importantes. Lüdtke destacou o caso do Diário Popular, de Pelotas, um jornal centenário que descontinuou sua versão impressa e posteriormente também a digital. Embora houvesse um esforço para preservar o arquivo físico, a origem do acervo digital se perdeu, resultando na perda de uma parte significativa da história local.

Sérgio Spagnuolo, responsável pela análise de dados, focou na evolução do cenário no Nordeste, que por muito tempo teve o maior índice de desertos de notícias proporcionalmente. Em 2020, 66% dos municípios da região eram desertos, enquanto agora essa taxa caiu para 49,6%.

O levantamento foi apoiado financeiramente pelo Google. A nova edição, que teve início em outubro do ano anterior, contou com a colaboração de mais de 200 voluntários de cerca de 80 organizações diversas, com a maioria sendo universidades.