O inimigo do seu bolso pode estar em sua casa

A batedeira que sua avó usa há décadas se tornou uma relíquia, enquanto muitos produtos modernos, como liquidificadores, param de funcionar logo após o término da garantia. Essa diferença na durabilidade não é apenas uma questão de sorte, mas sim uma prática chamada obsolescência programada. Esta estratégia faz parte do modelo de negócios de várias indústrias, visando incentivar compras mais frequentes.

O que é a obsolescência programada?

A obsolescência programada se refere à prática de projetar produtos com uma vida útil limitada. O objetivo é que os consumidores precisem comprar novos itens com regularidade. Isso não ocorre por acaso; essa estratégia já é considerada durante a criação do produto.

Existem dois tipos principais de obsolescência. A obsolescência funcional, por exemplo, envolve a utilização de componentes de baixa qualidade, como engrenagens de plástico em vez de metal. Já a obsolescência percebida acontece com a constante introdução de novos designs e cores, fazendo com que produtos ainda funcionais pareçam ultrapassados.

Por que as indústrias adotam essa prática?

Essa abordagem visa aumentar o consumo e acelerar o ciclo de compras. Em um modelo econômico que prioriza o crescimento contínuo, produtos projetados para durar muitos anos não são vantajosos. Com isso, a lógica de "comprar, usar, descartar e substituir" se estabelece, gerando maiores lucros para os fabricantes. Assim, questões como o impacto ambiental e os custos para o consumidor muitas vezes não são levados em conta.

Como identificar a obsolescência em produtos modernos?

Para evitar comprar produtos que podem não durar, é importante observar alguns detalhes antes da compra. Os seguintes sinais podem ser indicativos de que um eletrodoméstico não é durável:

  • Componentes frágeis: Muitas vezes, pequenos itens essenciais, como engrenagens, são feitos de plásticos que não suportam bem o uso.

  • Dificuldades para reparo: Produtos que possuem partes coladas ou que usam parafusos que exigem ferramentas especiais podem ser difíceis de consertar.

  • Altos custos de reparo: Em muitos casos, o custo de consertar um produto é tão alto que chega a ser mais barato adquirir um novo.

  • Falta de peças de reposição: Alguns fabricantes param de fornecer peças para produtos considerados "antigos", mesmo que não tenham muitos anos de uso.

E os eletrodomésticos antigos eram realmente melhores?

Embora a nostalgia desempenhe um papel, muitos eletrodomésticos antigos eram projetados de modo mais simples e utilizavam materiais mais duráveis, como aço e alumínio. Os aparelhos modernos são recheados de funcionalidades e tecnologias avançadas, mas essa complexidade vem com o risco de mais falhas e a utilização de materiais menos resistentes.

A legislação brasileira protege o consumidor?

Sim, a legislação oferece proteções importantes. O Código de Defesa do Consumidor (CDC) é uma ferramenta essencial. Mesmo após o fim da garantia, ainda é possível reivindicar direitos, especialmente em casos de "vício oculto", que são defeitos que surgem após a compra. A lei também estipula que os fabricantes devem garantir o fornecimento de peças de reposição por um tempo razoável. Instituições como o Procon e o Idec estão disponíveis para ajudar os consumidores na busca por seus direitos.

Como fazer compras mais inteligentes?

Embora a obsolescência programada seja um desafio, algumas ações podem ser adotadas para driblar essa estratégia. Antes de comprar, faça uma pesquisa aprofundada sobre o produto e a marca. Não se deixem levar apenas pelo preço ou design. Verifique a reputação da marca em relação à durabilidade e ao suporte pós-venda. Ler análises de consumidores pode oferecer insights valiosos sobre o desempenho a longo prazo do produto. Às vezes, é mais vantajoso optar por uma marca reconhecida pela qualidade, mesmo que o preço inicial seja um pouco maior, já que isso pode gerar economia no futuro.