
Uma farmácia de fachada registrada em Dourados, no Mato Grosso do Sul, está sendo investigada pela Polícia Federal (PF) por envolvimento em um esquema de fraude que desviou cerca de R$ 40 milhões do programa federal Farmácia Popular. Este recurso público estava sendo utilizado para lavar dinheiro proveniente do tráfico internacional de drogas.
As investigações revelaram que fazia parte de uma rede maior, composta por 148 estabelecimentos, entre farmácias reais e de fachada, espalhadas por vários estados brasileiros. O grupo criminoso, liderado por Fernando Batista da Silva, conhecido como “Fernando Piolho”, utilizava informações de cerca de 160 mil CPFs e endereços de pessoas comuns para simular vendas de medicamentos, sem que essas farmácias realmente existissem.
O esquema foi descoberto após a apreensão de 191 quilos de drogas em Luziânia, Goiás. A partir daí, a PF começou a aprofundar suas investigações, que mostraram conexões em seis estados: Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul. Fernando Piolho tem ligações com as organizações criminosas Comando Vermelho e Clã Cisneros, atuante no Peru.
Segundo a Polícia Federal, Fernando usava o nome da própria filha para abrir empresas e facilitava a compra e venda de CNPJs, sempre utilizando “laranjas”, ou seja, pessoas que não sabiam que suas informações estavam sendo usadas de forma ilegal. Alguns endereços registrados eram terrenos baldios, como no caso de uma farmácia em Águas Lindas (GO), que recebeu quase R$ 500 mil do programa.
Outros exemplos incluem uma farmácia em Campo Belo (MG) associada a uma mulher que estava registrada como proprietária de cinco drogarias em estados diferentes e movimentou cerca de meio milhão de reais. Por fim, uma empresa chamada Drogaria PHS fez saques indevidos em nome de um dentista que nunca tinha recebido medicamentos como insulina, mas que tinha registros de retirada de até 20 caixas por mês em seu nome.
A PF também investiga se o dinheiro desviado das farmácias, incluindo a de Dourados, foi de fato repassado à organização de Fernando Piolho, que pode estar usando esses recursos para financiar operações de tráfico de drogas, especialmente nas regiões de fronteira com a Bolívia e o Peru.
O superintendente da Polícia Federal no Distrito Federal, José Roberto Peres, definiu o esquema, afirmando que a organização usou o programa Farmácia Popular não apenas para lavar dinheiro, mas também para investir no tráfico de drogas. As investigações continuam em andamento, com um foco em desarticular completamente essa rede criminosa.