Estudo aponta que brasileiro deve investir até 18% no exterior

As oscilações na taxa de câmbio afetam diretamente o custo de vida dos brasileiros. Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que, para preservar o poder de compra, é vital que os brasileiros mantenham entre 11% e 18% de seus investimentos em ativos fora do país, proporcionalmente à sua renda.

A estratégia de diversificação internacional atua como uma proteção contra as consequências negativas da variação cambial, incluindo a inflação. Segundo o professor Ricardo Rochman, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV, muitos brasileiros ainda não compreendem a relação entre a taxa de câmbio e o custo de vida. Rochman explica que cerca de 16% a 18% dos itens que compõem a cesta de consumo, que influencia o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), estão vinculados ao câmbio. Isso significa que a desvalorização do real pode afetar uma ampla gama de despesas, desde alimentos até transporte.

O estudo também simula uma situação em que o real perde 20% de seu valor em relação ao dólar. Se uma família depende de itens cotados em dólar, a falta de proteção cambial pode significar um aumento significativo nos preços. Contudo, se essa família mantiver uma parte de seus investimentos atrelados ao dólar, conseguirá neutralizar os efeitos dessa variação.

Rochman informou que o impacto da desvalorização não é percebido imediatamente. Mudanças na taxa de câmbio tendem a refletir nos preços ao consumidor com um atraso, devido ao ciclo produtivo de produtos e serviços. Assim, mesmo que o real tenha desvalorizado no final do ano passado, seus efeitos continuarão a aparecer na cesta de consumo dos brasileiros até 2025.

Outro aspecto relevante é o papel das importações na inflação. Entre 2013 e 2023, as importações representaram 10,1% do PIB do Brasil. Apesar do país registrar superávit comercial, a maior parte dos produtos importados está associada à indústria, enquanto as exportações se concentram em commodities. Essa dinâmica impede que os ganhos das exportações compensem a alta do dólar nos produtos consumidos internamente.

Os setores mais afetados pela variação cambial incluem eletrônicos, veículos, combustíveis, medicamentos, alimentos e vestuário. Muitos produtos, mesmo os nacionais, acabam sendo impactados pelo dólar, já que dependem de insumos importados.

Estudos indicam que entre 10% e 25% do que os brasileiros gastam é influenciado por mudanças na taxa de câmbio. Esse efeito é mais pronunciado em produtos eletrônicos, medicamentos e combustíveis, afetando desproporcionalmente as camadas de menor renda.

Atualmente, a maioria dos investimentos dos brasileiros está concentrada no mercado interno. Dados revelam que apenas 1,11% da renda fixa do país está investida no exterior, enquanto em fundos de ações essa porcentagem sobe para 1,97%. Essa falta de diversificação coloca o Brasil entre as nações com menor envolvimento em investimentos internacionais.

Tatiana Itikawa, da Anbima, menciona que a falta de conhecimento e a educação financeira no Brasil são barreiras para que os investidores explorem oportunidades internacionais. Ela destaca a importância de estar atento às inovações globais, especialmente em setores como tecnologia, onde as oportunidades no exterior podem ser muito mais promissoras.

Diversificar investimentos é uma opção para reduzir riscos e abrir novas oportunidades. Especialistas recomendam estratégias como proteção cambial e diversificação de ativos em diferentes moedas. Isso ajuda a evitar que flutuações na taxa de câmbio afetem o padrão de vida do investidor.

A distribuição do impacto do câmbio varia de acordo com a faixa de renda. Para aqueles com renda muito baixa, o impacto chega a 13,93%, enquanto para os de renda alta, é de 11,07%. Quando são considerados gastos com viagens e educação no exterior, esses números aumentam ainda mais.

Por fim, em um cenário de incertezas políticas e econômicas, como mudanças nas tarifas internacionais, a diversificação e a visão de longo prazo se tornam cada vez mais importantes. De acordo com Rochman, investir não deve ser visto como uma estratégia de curto prazo, mas sim como uma forma de garantir segurança financeira no futuro.