
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou uma inflação de 5,35% nos 12 meses até junho, ultrapassando o teto da meta estabelecida em 4,5% pela sexta vez consecutiva. Essa situação é atribuída a vários fatores que incluem uma economia aquecida, a desancoragem das expectativas sobre a inflação, a inércia inflacionária e a desvalorização do real em relação ao dólar.
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, comunicou essa informação em uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Este tipo de comunicação é regulamentado por lei quando a inflação excede o limite da meta por um período prolongado. Esta é a segunda carta desse tipo enviada por Galípolo em menos de seis meses; a primeira ocorreu em janeiro de 2025.
Com a implementação de um novo sistema de "meta contínua" neste mesmo mês, o Banco Central agora deve fornecer explicações sempre que a inflação acumular resultados fora do intervalo tolerável por seis meses consecutivos. O intervalo de tolerância é definido entre 1,5% e 4,5%.
Fatores que levaram à inflação elevada
O Banco Central apontou diversos elementos que contribuíram para a inflação acima da meta:
Crescimento da economia: A atividade econômica apresentou um desempenho melhor do que o esperado, com aumento do consumo.
Melhoria no mercado de trabalho: A redução das taxas de desemprego e o aumento da renda da população ajudaram a fomentar a demanda.
Expectativas de inflação: O mercado começou a prever uma inflação superior ao que era inicialmente esperado.
Desvalorização do real: O aumento da cotação do dólar teve efeitos diretos sobre os preços de produtos importados.
- Aumento de preços específicos: O custo de produtos como energia elétrica e alimentos industrializados disparou.
Em termos mais técnicos, o Banco Central indicou que a inflação está foram da meta em 2,35 pontos percentuais por conta dos seguintes elementos:
- Inércia inflacionária: +0,69 p.p.
- Expectativas de inflação: +0,58 p.p.
- Hiato do produto: +0,47 p.p.
- Inflação importada: +0,46 p.p.
- Bandeira tarifária de energia: +0,27 p.p.
- Outros fatores: -0,12 p.p.
Impactos em salários, câmbio e alimentos
O relatório também ressaltou uma forte inércia inflacionária, com os reajustes salariais sendo afetados pela inflação passada. Para 2025, o salário mínimo aumentou em 7,5% acima da inflação de 2024.
Além disso, a alta do dólar em 2024 teve um impacto significativo nos preços dos produtos importados, elevando os custos da indústria.
No setor de alimentos, o preço do café moído subiu 77,88%, enquanto as carnes aumentaram 23,63%. Por outro lado, os preços dos alimentos in natura diminuíram em 9,9% nos últimos 12 meses, influenciados pelo fim do fenômeno climático El Niño.
Um economista do Banco Bmg destacou que a situação atual confirma um panorama positivo para a inflação a curto prazo, mas ressalta que os desafios de médio prazo permanecem. O fortalecimento do mercado de trabalho pode manter a inflação de serviços alta, além de um cenário externo menos favorável devido a tarifas impostas pelos Estados Unidos.
Pressões sobre a energia elétrica
No que diz respeito aos preços administrados, a mudança para a bandeira tarifária vermelha, resultado de um cenário hídrico desfavorável, afetou as contas de energia elétrica. O Banco Central também observou que anomalias climáticas e pressões nos preços de combustíveis, embora seu impacto tenha sido reduzido pela queda no preço do petróleo, continuam a influenciar a inflação.
Aumento da taxa Selic
Para conter a inflação, o Banco Central elevou a taxa Selic em seis reuniões consecutivas, resultando em um aumento total de 4,5 pontos percentuais desde setembro de 2024. Ao final do segundo trimestre de 2025, a taxa Selic chegou a 15% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) avaliou que pode interromper o ciclo de elevações para verificar os efeitos das mudanças recentes, mas também indicou que retoma as altas se necessário.
Perspectivas de inflação
Projeções do Relatório de Política Monetária apontam que o IPCA deverá permanecer acima do teto da meta até o final de 2025, com estimativas de inflação variando entre 5,4% e 5,5% nos primeiros três trimestres e 4,9% no quarto trimestre. Expectativas indicam que a inflação só deve retornar ao intervalo tolerável no início de 2026, considerando a meta de 3%.
O Banco Central reforçou que uma nova carta será necessária se a inflação não atingir 4,2% no final do primeiro trimestre de 2026. Ajustes nas medidas ou na projeção de retorno à meta poderão ser feitos antes desse prazo, conforme as necessidades avaliadas pelo banco.