
Na quarta-feira, 10 de outubro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a implementação de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para o país. Essa decisão provocou reações significativas em Brasília e no mercado financeiro. Analistas do BTG Pactual indicam que, embora o impacto direto sobre a economia brasileira seja limitado, algumas empresas e setores podem enfrentar desafios mais graves.
A nova tarifa começará a valer em 1º de agosto e, conforme informou a Casa Branca, visa responder a questões políticas relacionadas ao governo de Jair Bolsonaro, além de protestar contra a censura a empresas de tecnologia americanas no Brasil. Apesar do caráter político da medida, os especialistas do BTG destacam que as exportações do Brasil para os EUA representam apenas 12% do total exportado pelo país, equivalente a cerca de 1,7% do PIB.
### Impactos Econômicos e Setores Atingidos
De acordo com o relatório elaborado por Carlos Sequeira, Leonardo Correa e outros analistas do BTG, se as tarifas forem mantidas, o superávit comercial do Brasil pode ser reduzido em até 7 bilhões de dólares em 2025 e 13 bilhões de dólares em 2026. Mesmo que algumas exportações sejam redirecionadas para outros mercados, a pressão será desigual entre os setores.
Setores que têm forte dependência do mercado norte-americano, como a aviação, papel e celulose, materiais de construção e madeira, devem sentir os efeitos mais agudos dessa tarifa. Por exemplo, a Embraer, que vende cerca de 60% de sua produção para os EUA, pode ser severamente afetada. A empresa monta os jatos executivos Praetor no Brasil, que estariam diretamente impactados pela nova tarifa. Já os jatos Phenom, fabricados na Flórida, teriam um impacto menos significativo. O BTG acredita que essa tarifa pode pressionar as margens de lucro da Embraer, levando a uma possível revisão de suas previsões financeiras.
A WEG, uma das maiores indústrias brasileiras, também expressa preocupações, principalmente com a exportação de transformadores e motores para os EUA, que representam aproximadamente 30% de suas vendas no país. A empresa pode considerar a ampliação da produção local ou a transferência de algumas operações para o México como forma de mitigar os efeitos da tarifa.
A Suzano, que possui uma exposição de 19% de sua receita no mercado americano, mesmo enfrentando uma demanda global fraca por celulose, também deverá buscar alternativas para ajustar suas operações, uma vez que redirecionar a exportação pode ser complicado, especialmente com os preços em níveis baixos.
### Setores Menos Atingidos
Por outro lado, alguns setores podem minimizar os danos. O setor de petróleo e derivados, por exemplo, está isento devido a ordens executivas anteriores. A Petrobras exporta apenas 4% de seu petróleo bruto para os EUA, o que facilita o redirecionamento a outros mercados. O setor siderúrgico também não deve ser significativamente afetado, já que as tarifas sobre produtos como placas de aço já estavam em vigor, acima de 50% desde 2018. Empresas como Gerdau e Usiminas já possuem produção local nos EUA.
No agronegócio, apesar da tarifa dificultar a exportação de carne bovina, muitas empresas do setor têm pouca dependência do mercado americano, como Marfrig e Minerva, que dependem apenas de 2% e 5% de suas receitas, respectivamente. A Jalles Machado, que exporta açúcar orgânico, pode sentir os efeitos negativos, mas isso também representa apenas 5% de sua receita.
### Consequências Políticas
Os analistas do BTG ressaltam que as consequências políticas dessa medida podem ser mais duradouras que os impactos econômicos imediatos. A postura de Trump pode fortalecer a imagem do governo Lula no Brasil, que pode se posicionar como defensor da soberania nacional diante da pressão externa. O PT tem reagido de forma positiva a essa situação, classificando a tarifa como “arbitrária e antidemocrática”.
### Cenário Global e Desafios à Frente
A decisão de Trump surge em um contexto de crescente tensão comercial global e aumento do protecionismo nos EUA. Já haviam sido anunciadas tarifas adicionais sobre produtos de outros países, como China e México, e a questão política acentua a complexidade da situação com o Brasil.
Apesar das dificuldades, os analistas do BTG afirmam que o Brasil ainda tem potencial logístico e comercial para redirecionar parte de suas exportações. Produtos essenciais, como petróleo bruto e certos insumos industriais, continuam isentos da nova tarifa. Contudo, a mensagem de Trump sugere que o ambiente de negócios entre Brasil e EUA pode se tornar mais hostil, especialmente se ele for reeleito. Isso exigirá agilidade e habilidade diplomática do governo brasileiro, bem como resiliência das empresas nacionais.