Marcelo Gasparino, conselheiro da Vale: sustentabilidade é essencial

A sustentabilidade se tornou um aspecto fundamental nas empresas brasileiras, especialmente nas de capital aberto, que têm um grande impacto econômico e ambiental. Marcelo Gasparino, conselheiro com experiência em empresas como Vale, Petrobras e Banco do Brasil, conversou sobre a importância da governança e da sustentabilidade nos conselhos administrativos.

Graduado em Direito e com certificação pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) desde 2010, Gasparino defende que a atuação dos conselheiros deve ser independente e focada em resultados sustentáveis. Para ele, temas de sustentabilidade, como ESG (ambiental, social e de governança), transição energética e comunicação com partes interessadas, deixaram de ser apenas informativos nos relatórios anuais e se tornaram essenciais para a continuidade dos negócios.

Gasparino salienta que a governança corporativa deve ir além de um simples conjunto de regras. Ela deve assegurar que a estratégia da empresa esteja em sintonia com os interesses dos acionistas e da sociedade. Ele destaca a relevância de decisões cruciais, como a escolha e eventual substituição do CEO, que requer planejamento, sucessão estruturada e uma liderança consciente.

O conselheiro já participou de importantes eleições em empresas estatais e privadas e enfatiza a importância de incluir acionistas minoritários através do voto múltiplo. Esse mecanismo permite que esses acionistas concentrem seus votos em candidatos de sua escolha, aumentando as chances de eleger representantes e promovendo uma fiscalização efetiva nas diretorias de empresas como Eletrobras, Vale e Petrobras.

Em relação à sustentabilidade, Gasparino explica que as questões ESG se tornaram um verdadeiro fator de risco, e ignorá-las pode resultar em perdas financeiras e de reputação. Ele menciona que empresas de grande porte, como a Petrobras, têm investido em combustíveis menos poluentes, como o biodiesel e o SAF (combustível de aviação sustentável), alinhando-se com uma transição energética mais limpa.

Gasparino acredita que o Brasil possui uma oportunidade ímpar de se destacar nesse movimento global. Ele sugere que o país utilize suas reservas de petróleo, como as do pré-sal, para financiar energias limpas, ligando desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Para ele, um dos papéis essenciais dos conselhos é garantir que a sustentabilidade seja uma prática real e não apenas discursiva.

Além disso, a prática do voto múltiplo é vista como uma forma de fortalecer a participação de acionistas minoritários, permitindo maior democratização na governança das empresas. Gasparino cita sua experiência em eleições como a da Petrobras em 2020 e da Vale em 2021, onde os minoritários conseguiram aumentar a sua representação e demandar mais transparência nas decisões.

Os conselhos também têm criado comitês de sustentabilidade para direcionar investimentos que alinhem retorno financeiro com impacto ambiental positivo. Gasparino menciona que a Vale, por exemplo, tem investido em práticas que controlam emissões e melhoram a logística, enquanto a Petrobras avança na produção de combustíveis renováveis. Ele ressalta que é imprescindível que as empresas operando na Amazônia promovam a preservação ambiental e contribuam para o desenvolvimento local.

Por fim, Gasparino incentiva as empresas brasileiras a se tornarem protagonistas na economia verde. Ele acredita que o país, que muitas vezes perdeu oportunidades em revoluções passadas, ainda pode se destacar na revolução da sustentabilidade, o que requer planejamento e coragem para tomar decisões difíceis. Sua mensagem para os CEOs é clara: é crucial saber quando é hora de deixar o cargo e permitir uma sucessão eficiente, evitando a estagnação. Para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), ele enfatiza que o Brasil deve demonstrar seu potencial como uma potência verde com soluções que inspirem outras nações.

Marcelo Gasparino, advogado de formação com 14 anos de experiência, é um dos principais nomes em governança no Brasil. Ele foi eleito por acionistas em importantes empresas e tem uma trajetória marcada pela defesa da transparência e responsabilidade nas decisões administrativas. Ele acredita que conselheiros devem ter sua própria “skin in the game”, ou seja, também precisariam ser investidores nas empresas em que atuam, garantindo um alinhamento maior entre interesses.